Ontem, depois de mais de um ano sem usar transporte público, usei o metrô. Fui ao SECOVI, Vila Mariana, Rua Dr. Bacelar.
O dia estava bonito, ensolarado e frio, e eu adoro rua e transporte público. Veio bem a calhar esse compromisso.
Santa Cecilia, Sé, Santa Cruz, Hospital São Paulo. Fui muito bem atendido em todas as estações e não aguardei mais do que uma composição para embarcar. Em todas elas embarquei na segunda composição, somente foi o tempo de o agente de estação comunicar a estação do meu desembarque.
Já cheguei a aguardar mais de cinco composições passarem para poder embarcar, e às vezes “em cascata”, ou seja, esperar cinco numa estação, mais três em outra e quatro em outra, simplesmente pela falta de agentes de estação para o apoio.
Dessa vez o atendimento foi bem rápido mesmo.
Quando cheguei à estação Santa Cecília, a mais próxima de minha casa, não havia ninguém no bloqueio e nem na SSO. Aguardei alguns minutos e chegou um agente de estação que me acompanhou para o embarque, antes pediu para um segurança ficar no bloqueio, pois não havia mais ninguém para isso.
É necessário que eu seja acompanhado para a colocação da rampa para embarque, se houvesse acessibilidade isso não seria necessário e eu poderia embarcar com autonomia e segurança.
Uso a Estação Santa Cecilia há muitos anos e somente uma vez encontrei o elevador quebrado.
Da Santa Cecília desci na Sé onde já havia um agente me esperando com a rampa. Fui acompanhado por ele ao próximo embarque, direção Jabaquara até a estação Santa Cruz e daí baldeação para a Linha Lilás para a estação Hospital São Paulo.
Sempre me causa muito estranhamento a fila de pessoas para usar os elevadores das estações, em especial nessa transferência para a Linha Lilás, onde não é raro encontrarmos fila de quinze a vinte pessoas para o uso dos elevadores. Aparentemente, repito, aparentemente, a maioria delas poderia fazer uso das escadas rolantes.
No trajeto entre a Santa Cruz e a Hospital São Paulo, havia um rapaz, negro, com uma menina no colo, distribuindo um folhetinho e pedindo dinheiro.
Ele estava com chinelo de dedo e tinha os pés delicados. A menina era muito grande para estar em seu colo.
Essas cenas sempre me tocam muito, penso nas crianças que passam por isso. Penso na situação de humilhação e constrangimento por que passam.
Quando faço observações dessa natureza, não é raro que queiram culpabilizar o adulto por essa situação. Não os culpo. Culpo a nós, a todos nós.
Culpo uma sociedade que convive com a pobreza. A pobreza de recursos materiais, a pobreza de alma.
Para não fugir à regra, o elevador da estação Hospital São Paulo estava quebrado, enfrentei as escadas rolantes, sem que fossem desligadas, na ida e na volta.
Eu peço aos agentes para não desligarem a escada, sou habilidoso e encaixo a cadeira de jeito, solicitando apenas que um agente fique no apoio atrás.
Nunca tive problemas.
As normas do Metrô exigem o acompanhamento de três agentes para essas situações, ontem havia três disponíveis quando cheguei, mas já aconteceu de ter que esperar mais de meia hora até que se juntasse três agentes. Acontece que para juntarem três, às vezes cada um vem de uma estação diferente. Isso demora…
Sendo que na prática apenas um é necessário. Pelo menos no meu caso.
Planejava almoçar, como já fiz tantas vezes, n’A Libanesinha, na Rua dos Otonis, próximo ao Instituto Jô Clemente, mas para minha tristeza, estava fechada.
Havia decidido ir andando até o SECOVI, que é o sindicato patronal da habitação de do mercado imobiliário.
Me incomodou um pouco a topografia do trajeto, entre a estação São Paulo e o sindicato.
A Rua Pedro de Toledo tem calçadas muito boas, recentemente reformadas, mas a Rua Dr. Bacelar tem calçadas de má qualidade, mesmo que muitas tenham sido construídas recentemente, pois há muitos edifícios residenciais novos. As calçadas continuam sendo para os automóveis.
Fui pela rua a maior parte do caminho. Cerca de 1500 metros.
Ao voltar, o mesmo problema na estação Hospital São Paulo, elevador quebrado.
Chegando à estação Santa Cruz, ninguém na SSO, tive que esperar um pouco até que houvesse um agente de estação para me acompanhar, colocar a rampa e comunicar a próxima estação.
Optei por descer na Sé, onde se encontra o elevador mais malcuidado, sujo e fedorento de todo o Metrô, mas claro que a culpa é dos moradores de rua. Esse é o argumento, a desculpa esfarrapada sempre utilizada.
O elevador foi instalado bem posteriormente à construção dessa estação, e os engenheiros acharam por bem que o melhor lugar para deficientes seria o cu da estação. E ele está lá até hoje.
A Praça da Sé é o suprassumo do abandono da cidade. Pobreza, mais pobreza, sujeira, drogas, trocentas bancas de jornal, pastores aos montes, policiais, prostitutas mais pobres que seus clientes, bêbados, mais bêbados. E um movimento intenso de trabalhadores passando por tudo isso.
Fui à Mercearia La Romana comprar doce de damasco para as meninas.
Voltei para casa andando.
Tuca Munhoz