Dias atrás coube-me fazer a motivação de abertura de um importante evento da Procuradoria Jurídica do Grupo Marista (Projur Day/2021) cujo tema foi: “Saúde mental – Inspiração para a conjugação da felicidade, do trabalho e da paz”. Retomo as principais ideias motivacionais daquele importante acontecimento.
Medir a felicidade é uma aventura difícil, complexa, desafiante, apaixonante, indescritível, bem diferente da mensuração de metas e resultados econômico-financeiros. Tempos atrás ouvi falar do Butão, pequeno país de tradição budista encravado nas montanhas do Himalaia, e busquei conhecer um pouco mais as suas peculiaridades. Preocupado com a transição para uma economia de mercado, o governo decidiu criar sua maneira própria de medir a qualidade da saúde mental e do bom humor do seu povo. Para isso tomou a incrível decisão de criar o Ministério da Felicidade, cujo objetivo é planejar o bem-estar de todos os cidadãos da nação.
No lugar do Produto Interno Bruto (PIB), o Butão utiliza o índice FIB: Felicidade Interna Bruta. Hoje, o país, cujo PIB não passa de US$ 2,5 bilhões, é considerado o mais feliz do mundo. A FIB é avaliada pelo governo por meio de uma gama de critérios: desenvolvimento econômico sustentável, preservação das tradições, conservação do meio ambiente, além de considerar se o governo é participativo, transparente e confiável. Hoje, o Butão figura entre os 10 países mais felizes do mundo, com baixíssimos índices de violência, sem mendigos ou miseráveis, com uma população na sua grande maioria vegetariana, entre outros resultados impressionantes.
O cuidado das pessoas é um imperativo ético de promoção do nosso capital humano, porque, de fato, se as pessoas são felizes, portadoras de saúde mental e de qualidade de vida, e a instituição é igualmente saudável, isso comprova que organizações felizes são mais produtivas, eficazes e com resultados de vitalidade, de solidariedade e de sustentabilidade relevantes e reconhecidos. Como Irmãos e Maristas de Champagnat, nosso objetivo é poder contar em nossas instituições com lideranças que acreditam naquilo que acreditamos, pois, se partilham do mesmo propósito, hão de cuidar de si e dos outros, impactando os liderados e suas equipes, para que sejam igualmente geradores de felicidade ao conjugar trabalho, saúde e paz.
Nossa trajetória tem comprovado a importância, a influência e os benefícios da felicidade no trabalho, na performance, na motivação, na satisfação e engajamento das lideranças e das equipes. Isso envolve colaboradores, educadores e profissionais da saúde de nossas Frentes de Missão. Sim, a felicidade no trabalho influencia positivamente a performance, a motivação, a satisfação e o engajamento de todos os nossos trabalhadores.
É conhecido o ditado: “Tudo o que não nos mata, nos torna mais fortes”. Mas nem sempre essa é uma máxima verdadeira. Já nos alertava com propriedade Martin Luther King: “Aprendemos a voar como pássaros e a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos. A verdadeira medida de um homem não é como ele se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas como se mantém em tempos de crise, controvérsias e desafios”.
Estamos atravessando tempos difíceis. Partilhamos angústia, incerteza, insegurança com o emprego, preocupação com os idosos e doentes, solidão no furor das redes sociais, medo e morte. Experimentamos um turbilhão de sentimentos, o friozinho na barriga ao entrar em casa e reencontrar todos bem após um dia de trabalho ou no retorno das saídas e das viagens.
A crise aguda que humanidade enfrenta não se deve apenas ao coronavírus, mas também à falta de confiança entre os seres humanos. Para derrotar uma pandemia, as pessoas precisam confiar nos organismos sanitários, na medicina e em seus especialistas; os cidadãos precisam confiar nos poderes públicos; e os países, instituições e prestadores de serviços públicos e privados precisam confiar uns nos outros.
Nos últimos anos, políticos e instituições irresponsáveis contaminaram e corromperam deliberadamente a confiança na ciência, na cooperação nacional e internacional, no desenvolvimento social como expressão máxima do exercício da solidariedade. Como resultado, enfrentamos a crise da falta de líderes capazes de inspirar, organizar e financiar uma resposta global coordenada em termos sanitários, econômicos e sociais. Como bem sabemos, o antídoto para uma pandemia não é segregação, mas a cooperação.
Cada pessoa traz em si um fragmento do mistério de Deus. Pela via do desenvolvimento espiritual podemos ajudar, ser solidário, amar os outros. Daí o necessário exercício de maior lastro fraternal e da criação de laços de união, justiça, paz e solidariedade uns com os outros, com nossos entes queridos, com os companheiros de trabalho, com os pobres e doentes, com os que sofrem, com os que morrem vítimas da pandemia, com os infelizes, com os que choram na solidão, com os que perderam a esperança e até com os inimigos, como afirma a Sagrada Escritura. Somente assim será possível assistir a milagres, pois nosso Deus é o Deus da compaixão, da proximidade, da ternura, da fraternidade universal.
Em nosso ambiente de trabalho, fomentemos e maximizemos as potencialidades e as capacidades da felicidade: o cuidado, a qualidade de vida e a saúde mental das pessoas.
Oxalá as provações, aprendizados e bênçãos da pandemia da Covid-19 nos tornem mais fortes e melhores, nos ajudem a esperançar e nos tragam serenidade e um “novo normal”, em que nosso objetivo seja a felicidade de todos!
Benê Oliveira – Superior Provincial da Província Marista Brasil Centro-Sul, via Dom Total