Amor é prato difícil de preparar. Em qualquer circunstância. Mas, em família, o desafio pode ser ainda maior. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema. Não é para qualquer um.

Há os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir, mas a vida sempre arruma um jeito de nos entusiasmar de novo e reabrir o apetite.

O tempo põe a mesa, determina quem vai sentar-se nas cadeiras, define os lugares. Súbito, feito milagre, o amor está servido.

E como é gostoso!

Entre os ingredientes, alguns podem ter a graça mais saborosa. Outros vem ao ponto, delicados, dando aquele toque que muda o sabor de qualquer receita.

Uns chegam derretendo feito algodão doce. Outros são consistentes como um pudim bem feito. Ou pode ser tudo ao contrário, pois que nessas receitas de amor em família os ingredientes podem se embaralhar, sem perder a magia do sabor.

Então, estão prontos? Ótimo. Por que tá na hora de pôr um avental, pegar a tábua, os ingredientes todos que a vida lhes deu e tomar alguns cuidados.

O primeiro deles: temperos exóticos alteram o sabor do amor. Mas, se misturados com delicadeza, estas especiarias que nos parecem estranhas ao paladar tornam o amor muito mais colorido, interessante e saboroso.

Segundo cuidado: atenção aos pesos e medidas. Evite exageros. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto: pode ser um verdadeiro desastre. Amor em família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Uma dose a mais de impaciência pode azedar o amor para sempre. Falta de delicadeza e cuidado podem secar a massa do coração e deixá-la dura como pedra.

Terceiro cuidado: No amor, somos todos amadores. Por isso, cultivem amizades para além da família. Coisa boa é uma mesa farta, cheia de amigos ao redor. Amigos verdadeiros podem ajudar se a receita da família ameaça desandar.

Se a vida lhes der uma cebola para descascar e picar não se envergonhem de chorar. Amor em família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. Às vezes de alegria, às vezes de raiva, outras de tristeza.

Se o prato principal salgar demais, tem sempre a possibilidade de uma sobremesa chamada perdão. Com um detalhe. Momentos de doçura sempre são mais gostosos de saborear em família…

E, não se esqueçam: cozinha é lugar sagrado na casa de toda família. Cuidado se alguém decidir meter a colher. Às vezes o amor mais saboroso azeda porque alguém, com a melhor das intenções, resolveu meter a colher. Isso às vezes complica, pois cada família tem seu tempero, seu jeito de cozinhar as relações. Há situações em que a melhor opção é o banho-maria. Outras em que é preciso uma boa panela de pressão. Há momentos de fogo brando, outros de panela fervendo. Ouçam os outros, copiem receitas, comparem a lista de ingredientes, aproveitem o que for possível e façam o prato do jeito que a família dá conta.

É que tem gente que acredita na receita de amor perfeito. Bobagem. Ilusão. Amor perfeito só o doce. E há quem não goste.

Tenham calma, paciência. Amor é prato que nunca está inteiramente pronto. E é sempre à moda da casa.

Há amores doces, outros, meio amargos. Há amores apimentadíssimos. Há até os que não têm gosto de nada, tipo assim, um amor diet, que você suporta só para manter a linha.

Seja como for, amor é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Um amor frio é insuportável, impossível de engolir.

Receita de amor em família a gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que recebeu pra quem chegar.

Cata uma palavra ali, um gesto acolá, aprende o sabor e o valor de um carinho, acrescenta uma pitada que faltava, faz uma combinação entre o agridoce das despedidas e dos reencontros, das ausências e saudades.

Enfim, anotem tudo no caderno da memória.

Muito da beleza e do sabor do amor em família se perde na lembrança por falta de cuidado. Pois assim como as verduras na horta “precisam de água, ar, luz e calor, o amor precisa, para viver, de emoção e de alegria. E tem que regar todo dia…”.

Pra terminar, o que este veterano cozinheiro pode dizer a vocês é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, amor em família é prato que vocês tem que experimentar. Gostaram? Então, saboreiem. Não liguem para etiquetas. Podem lamber os dedos, passar o pão naquele molhinho que ficou no prato, estalar a língua e dizer: que delícia!

A cozinha da vida nos espera. A todos, bom apetite. E aproveitem ao máximo. Amor é um prato que, quando acaba, pode nunca mais se repetir!

Amor: feliz a família que sabe preparar, saborear e compartilhar!


Eduardo Machado
Educador, Escritor, apaixonado pelo ser humano, um católico que tenta, cada dia mais, tornar-se cristão.