A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promoveu nesta semana, no ambiente digital, o Encontro de Parlamentares Católicos, importante investimento nos parlamentares que professam a fé cristã. No horizonte está o desafio de iluminar o exercício da política com os valores do Evangelho de Jesus Cristo, pois a fé cristã católica qualifica as ações cidadãs e parlamentares. Compreende-se, assim, a importância de articular uma frente parlamentar católica – jamais para estabelecer entrincheiramento na defesa de interesses cartoriais. Ao invés disso, a prioridade é a defesa do bem comum, do sentido inegociável da solidariedade e da igualdade, promovendo princípios democráticos.
A fé cristã tem uma grandeza que emoldura e inspira o exercício da política na sua essencialidade, de forma séria e sincera dedicada ao bem das pessoas, por meio de legislações que garantam o direito e a justiça, na verdade e na paz. Essa é a razão de a Igreja sensibilizar homens e mulheres a participarem da política, sempre seguindo o horizonte rico e inspirador de sua Doutrina Social. O serviço à sociedade nas instâncias do poder é exigente e complexo, principalmente no atual contexto, quando há necessidade de ser configurado novo tecido sociopolítico no Brasil. Merecem atenção os desdobramentos históricos da política brasileira e o agravamento de muitos problemas, especialmente em razão da pandemia. Em curso, verifica-se a precipitação perigosa da cidadania no abismo das polarizações e extremismos, reforçados por mudanças culturais velozes e, especialmente, pelos impactos das redes sociais, nem sempre adequadamente administradas. Esse cenário desafiador emoldura o exercício da política.
O parlamentar católico tem, pois, a responsabilidade de exercer a representação dos cidadãos nos trilhos de valores e princípios que impulsionem transformações, ofereçam respostas novas para os problemas atuais e alimentem o horizonte cidadão com as convicções da fraternidade universal. A partir dessa convicção, o encontro de parlamentares católicos promovido pela CNBB busca contribuir para que os políticos fortaleçam sempre, e cada vez mais, sua fidelidade aos valores do Evangelho de Jesus Cristo. Ao contar com a vocação política de parlamentares católicos, na esperança de desempenhos qualificados, a Igreja investe para promover a “política melhor”, conforme é conceituada no capítulo quinto da Carta Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco.
O ápice do encontro organizado pela CNBB foi o diálogo da Igreja com os parlamentares – oportunidade para indicar suas expectativas e, também, para que ouçam partilhas da Igreja. Esse diálogo permite o aperfeiçoamento do serviço na política e nutre a esperança de um novo tempo, ao possibilitar amadurecimentos, com a permanente avaliação dos critérios que podem nortear decisões. O parâmetro desses salutares e contínuos debates, como compromisso de fé, alicerçando a opção política e partidária, será sempre a Doutrina Social da Igreja, diretriz para os cristãos. A meta insubstituível da “política melhor” é o bem comum, garantia de um desenvolvimento integral e sustentável. Não se trata, evidentemente, do caminho dos conchavos ou da defesa de interesses particulares, das bancadas que dificultam a configuração de uma realidade diferente. O parlamentar católico sabe o quanto é essencial engajar-se em um processo de mudança do próprio coração, nos hábitos e estilos de vida. Os que professam a fé cristã compreendem, por exemplo, que não se pode continuar a investir em propaganda política promotora de uma cultura individualista. Essa linha de propaganda busca levar a opinião pública a alimentar uma economia desenfreada e patrocinadora do consumismo que torna a sociedade submissa aos que já acumulam demasiado poder.
O diálogo entre Igreja e parlamentares católicos é o exercício de uma indispensável e contínua tarefa educativa para que a política seja promotora da solidariedade, fortalecendo a capacidade de pensar a vida humana de forma integral, com fecundidade espiritual capaz de alavancar profundas mudanças. Não se trata de um processo fácil – exige-se envergadura moral e humanística. E para que essas transformações sejam efetivadas, certos princípios precisam ser reconhecidos como “cláusula pétrea”. O Papa Francisco sublinha, por exemplo, que a política não deve submeter-se à economia. Na Encíclica Fratelli Tutti, argumenta: a rejeição do mau uso do poder, o combate à corrupção, ao desrespeito às leis e à ineficiência não podem justificar uma economia sem política. A economia sem política é incapaz de promover outra lógica para governar os vários aspectos da crise atual.
Nessa direção, compreende-se a importância do qualificado exercício da política, com visão ampla e abertura ao diálogo, contribuindo para que a sociedade encontre novos rumos. O caminho é longo, com desafios, consideradas as correções de equívocos históricos. Mas é preciso persistir, em um trabalho permanente. Por isso mesmo, a Igreja Católica investe e espera muito dos parlamentares católicos no cumprimento de sua tarefa cidadã: à luz da fé e dos valores do Evangelho de Jesus Cristo, possam contribuir sempre mais para a reconstrução do Brasil.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).