Em um novo documentário, o papa Francisco faz as declarações mais contundentes sobre as relações homossexuais. Francesco, do diretor Evgeny Afineevsky estreou em Roma nesta quarta-feira (21) e traz declarações do pontífice sobre a questão, ainda vista como controversa dentro da Igreja Católica.
Diante de uma pergunta do documentarista obre o lugar de católicos LGBTs na Igreja, Francisco respondeu que “os homossexuais têm o direito de fazer parte da família”. “Eles são filhos de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deve ser excluído ou se sentir infeliz por causa disso”, disse o papa
E foi além ao defender proteção legal para seus relacionamentos. “O que temos que criar é uma lei da união civil”, disse ele. “Dessa forma, eles são legalmente cobertos. Eu defendi isso.”
O papa parecia estar se referindo a quando era arcebispo de Buenos Aires e se opôs à legislação para aprovar casamentos entre pessoas do mesmo sexo, mas apoiou algum tipo de proteção legal para os direitos dos casais gays. Então, ele pretendia bloquear a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas defendeu a proteção legal para casas do mesmo sexo. A Argentina legalizou o casamento homossexual em 2010, que o então cardeal Jorge Bergoglio chamou de “ataque destrutivo ao plano de Deus”.
Francisco enfatizou sua crença de que pessoas LGBTs devem se sentir bem-vindas na igreja. Como papa, Francisco pediu uma igreja mais acolhedora para pessoas LBGTs, começando com sua resposta a uma pergunta em 2013 sobre padres gays, “Quem sou eu para julgar?”. Ele se encontrou com católicos LGBTs ao longo de seu pontificado, e embora tenha emitido repetidas advertências contra o que chama de “ideologia de gênero”, o papa Francisco instigou os católicos a se concentrarem na humanidade das pessoas LGBTs.
Juan Carlos Cruz, um sobrevivente de abuso sexual pelo clero que entrou em confronto com líderes da Igreja sobre a forma como o papa lidou com o abuso sexual no Chile, desenvolveu uma amizade com Francisco. No documentário, Cruz diz que discutiu sua sexualidade com o papa, que lhe disse: “Deus o tornou gay. Deus te ama como você é e você tem que amar a si mesmo.”
De acordo com a agência Reuters, o papa falou em um trecho do filme sobre Andrea Rubera, um homem gay que com sua parceira adotou três filhos. Rubera diz no filme que ele foi a uma missa matinal que o papa disse em sua residência no Vaticano e lhe deu uma carta explicando sua situação. Ele disse ao papa que ele e seu parceiro queriam criar as crianças como católicas na paróquia local, mas não sabiam como seriam recebidas. Não ficou claro em que país Rubera vive.
Rubera disse que o papa telefonou para ele vários dias depois, dizendo que ficou comovido com a carta e pedindo ao casal para apresentar seus filhos à paróquia, mas que estivesse pronto para a oposição. O filme mostra Rubera dando a carta ao papa. Ele diz que ele e seu parceiro adotou o conselho do papa e estão felizes que o fizeram.
O filme Francesco também se concentra fortemente nos direitos humanos, uma questão que Afineevsky cobriu em seus filmes anteriores, incluindo o documentário de 2017 Cries from Syria (Gritos da Síria, em tradução livre) sobre a devastadora guerra civil no país.
Em um trecho do filme sobre os direitos dos migrantes, o papa Francisco condena a política do governo Trump de separar as famílias que tentam entrar ilegalmente nos Estados Unidos. “É crueldade, e separar os filhos dos pais vai contra os direitos naturais”, disse o papa. “É algo que um cristão não pode fazer.”
A tensão entre o papa Francisco e o presidente Trump remonta à eleição de 2016, quando o papa questionou o plano de Trump de construir um muro ao longo da fronteira EUA-México.
Francesco narra o reinado de sete anos de Francisco, concentrando-se em questões defendidas pelo papa, incluindo o combate às mudanças climáticas, os direitos dos migrantes e o aumento do papel das mulheres na igreja.
Afineevsky disse à reportagem que criar seu filme sobre a guerra civil na Síria foi como “jornada ao lado mais escuro da humanidade de hoje” e que ele queria que seu próximo projeto se concentrasse no amor e na luz. Um amigo sugeriu que ele apresentasse o perfil do papa Francisco e, embora seja judeu, Afineevsky ficou intrigado com a ideia, atraído pelo alcance interreligioso do papa. “O papa Francisco abraça a humanidade”, disse Afineevsky. “Isso é o que este filme ensina, a importância de ser unido, de ser gentil, de espalhar o amor.”
Dom Total/America Magazine/agências internacionais