Superar a pandemia da Covid-19 e encontrar caminhos de futuro tem sido uma preocupação fundamental na vida do Papa Francisco, que desde o início tem respaldado as iniciativas das autoridades políticas e apoiado o trabalho desenvolvido pelo mundo científico. Mais uma mostra desse reconhecimento foi conhecida nos últimos dias com a mensagem enviada à Presidente da Fundação Osvaldo Cruz, a doutora Nísia Trindade Lima.
O escrito do Papa Francisco responde a um pedido em que se pedia “uma mensagem por ocasião do Seminário ‘Fratelli tutti: A mensagem social global do Papa Francisco’, promovido pela fundação”, celebrado em novembro e que contou com a participação de Leonardo Boff, Luiz Davidovich e Maria Cecilia Minayo, moderados por Paulo Marchiori Buss. Nas suas palavras, o Papa agradece a todos os profissionais da saúde do Brasil “por tudo o que tem feito pela população deste país, que me é tão caro”.
A importância das palavras do Papa Francisco cobra maior relevância num país onde o combate da pandemia da Covid-19 tem deixado muito a desejar. Brasil, que já superou os 5,5 milhões de casos e os 160 mil falecidos, tem vivido graves momentos, que tem atingido especialmente as camadas mais pobres da população, vítimas de um sistema de saúde sucateado. Além disso, a pandemia tem sido mais um instrumento de polarização numa sociedade onde o presidente da República sempre tem sido contra as políticas de isolamento, o trabalho do mundo científico e a eficácia da vacina.
Frente a esta política obscurantista, apoiada pelos grupos de fanáticos seguidores do atual presidente, a Igreja católica tem se posicionado pelo cuidado da vida. Mais um exemplo disso tem sido a última campanha promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para este mês de novembro que começava com a celebração do Dia dos Finados, “É tempo de cuidar da saudade e da casa comum”, fazendo um chamado a recordar as vítimas da Covid-19 e do desmatamento e queimadas na Amazônia e no Pantanal.
A mensagem papal mostra que “esta pandemia, que não exclui ninguém no seu rosto de sofrimento, evidencia ainda mais os efeitos nocivos de um outro vírus que há muito tempo assola a humanidade, o vírus da indiferença, que nasce do egoísmo e gera injustiça social”. Ele comenta, usando trechos da Fratelli tutti, sua última encíclica, como enfrentar a realidade atual, propondo como exemplo de comportamento “a imagem do Bom Samaritano, cuja parábola, independentemente de convicções religiosas, nos interpela sobre o verdadeiro sentido do amor ao próximo” e nos convida “a fazer ressurgir a nossa vocação de cidadãos do próprio do país e do mundo inteiro, construtores de um novo vínculo social” (n. 66)”.
Francisco lembra mais uma vez, “que viajamos “no mesmo barco, onde o mal de um prejudica a todos”, o que deve nos levar a não almejar uma volta à “normalidade”, já enferma, e sim a “construção de uma sociedade marcada pela inclusão, levantando e reabilitando aqueles que se encontram caídos nas margens da estrada da vida”. Essa mensagem cobra relevância no Brasil, um país onde a pandemia tem aumentado exponencialmente o desemprego e a fome, fruto de políticas públicas que garantam aquilo que é fundamental na vida de todo ser humano, uma realidade que atinge especialmente os mais pobres.
O Papa destaca o grande trabalho do pessoal sanitário e do mundo científico no Brasil, “cada mulher e homem, investigador, médico ou enfermeiro”, que segundo ele, “além de ser uma manifestação de zelo profissional, pode – e deve – ser vivido como uma expressão concreta de amor para com o próximo”. Finalmente insiste na necessidade de “reafirmar o compromisso de cada um no combate à pandemia e inspirar atitudes concretas que ajudem a promover de modo sempre mais eficaz e isento de ideologias o bem comum”, um pedido fundamental num Brasil onde as ideologias têm ofuscado a mente de boa parte da população.
Luis Miguel Modino – Dom Total