O terrível ano de 2020 se foi. Contudo, nem tudo que o tornou terrível ficará para trás.
Vivemos, no seu final, um aumento das mortes por Covid em todo o mundo e no Brasil. Chegamos a registrar 1194 óbitos em um dos últimos dias do ano, novamente. Ou seja, a pandemia estará aí para nos receber neste 2021.
A guerra comercial entre EUA e China e seus reflexos no mundo estará em pleno vigor – quais serão os próximos capítulos? Ainda seremos regidos por um império em decadência, mas consumindo os produtos feitos em terras chinesas!
Não conseguimos derrubar o governo Bolsonaro, apesar dessa ser uma das medidas mais efetivas contra a pandemia. Portanto, 2021 também nos reserva a continuidade deste desafio.
Com este governo continuaremos sob a hegemonia de uma política econômica neoliberal. O jogo da “direita limpinha” na economia está alinhado ao da “direita suja”, ou seja, continuaremos vivendo em 2021 com uma baita crise econômica.
Suspeito que os piores efeitos desta crise, como o aumento avassalador do desemprego, da fome e da miséria se darão neste ano que se inicia. Ano sem eleição, em que o governo oportunista já afirmou que não haverá mais auxílio emergencial. Pior para o povo.
Outro elemento a transpor a barreira de 2020 será este sentimento de estarmos retroagindo na história, sendo puxados para trás. Sentimento que causa angústia e fere a esperança de que dias melhores virão.
Contudo, há momento na história de nosso mundo, de nosso país e de nossas vidas, em que a espera se impõe, e com ela temos que conviver sem perder a esperança. Façamos, portanto, de nossa espera uma espera de muito fazer, uma espera de preparação, uma espera em ação. Como disse Paulo Freire, façamos da espera a construção de um novo período, que prepare, como o jardineiro, o jardim para a chegada de uma nova primavera.
Nos inspiremos na vitória da legalização do aborto na Argentina, ocorrida no final de 2020. Vencemos, lá, o obscurantismo que leva a morte de centenas de mulheres no Brasil.
Em 2021, vamos agir, proteger, ajudar, transgredir, criticar, educar, brincar e nos divertir, reinventando o combate à pandemia, à exploração das pessoas e à direita no governo. Lutemos por uma alternativa de organização social que supere as mazelas do capitalismo e, junto com isso, lutemos para evitar mortes de negros e LGBTs, violência contra as mulheres, violência policial, retirada de direitos.
Vamos também desconfiar de quem disser que a mudança que esperamos chegará pelas mãos de quem construiu a situação que vivemos hoje; chega de Globo, grandes empresários, agronegócio, Maias e Alcolumbres. Chega de frente ampla de centro!!!
Assim, poderemos construir, neste 2021, saídas para as crises e voltar a cantar como Belquior que “uma nova mudança, em breve, vai acontecer”.
Feliz, esperançoso e imunizado 2021!
Marcel Farah – Dom Total