Em qualquer idioma, trocadilho é uma forma divertida de brincar com as palavras. São comuns os trocadilhos em jornais esportivos ingleses, espanhóis, franceses e argentinos. Entre os hermanos, o mais famoso é o tabloide Olé, que usa e abusa de trocadilhos, especialmente quando o jogo de futebol levanta a bola para um bom jogo de palavras.
Há os trocadilhos idiotas, metidos a besta, mas há também os inteligentes, bem-humorados e até eruditos. E há os toleráveis, porque engraçados, como o da Xuxa “que entrou no bar pra beber c’a Sacha”.
No meu tempo de estudante de segundo grau do Colégio Peçanha, costumávamos, eu e mais dois ou três colegas, praticar a arte do trocadilho, reunidos em frente ao bar do Tuquito. Um deles, chamado Marquinho do Dion, era o mais hábil e espirituoso. Para ilustrar, conto aqui um do Marquinho que nunca esqueço, pela presença de espírito e a rapidez com que foi perpetrado. Foi no dia em que um amigo nosso chegou, tristonho e meditabundo, lamentando a ausência da namorada, que tinha ido passar férias na casa dos pais, em Governador Valadares. Choroso, disse que já estava morrendo de saudade dela. Marquinhos pôs-lhe a mão no ombro e disse de bate-pronto: “Ora, meu caro: por que não governa a dor e vá lá dares um passeio?”
Há trocadilhos famosos, como o que se conta do poeta Emílio Moura quando estava ele no meio de uma pequena multidão que se formara em frente a um edifício do centro de Belo Horizonte. Um conhecido empresário, de sobrenome De la Peña, havia caído do décimo andar, onde morava uma também famosa e distinta senhora de vida fácil, que ali dava seus plantões sexuais. Alguém chegou e perguntou ao poeta o que havia acontecido e ele, instantaneamente, respondeu: “Um homem que se diz Peña por uma mulher que se disputa”. Não sei se a história é verdadeira, mas o trocadilho é muito bom.
O trocadilho mais infame da História foi o de um grande locutor chamado Heron Domingues, que apresentava o noticiário Repórter Esso, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Era um programa de audiência quase total no país. Ninguém deixava de ouvir esse noticiário da mais importante de todas as emissoras de rádio. Começava sempre com a voz inimitável do locutor anunciando que estava no ar o Repórter Esso, “com as principais notícias da United Press International”. Terminava com a frase publicitária do patrocinador:
“E lembre-se: só Esso dá ao seu carro o máximo”.
A principal notícia daquele dia 29 de junho de 1958 era a conquista da Copa do Mundo pelo Brasil na final contra a Suécia, quando Pelé foi o principal personagem, ao lado de Garrincha, Didi, Nilton Santos, Zagalo e outros craques que encantaram o mundo com uma goleada de 5 a 2 sobre as donas da casa.
Naquela edição, Heron Domingues mudou a última frase do noticiário e lascou:
“E lembre-se: Suécia dá ao Brasil o máximo”.
Trocar só Esso por Suécia pareceu um achado, mas na verdade foi um grandessíssimo trocadalho. É lembrado como um dos piores trocadilhos de todos os tempos.
Afonso Barroso – Dom Total