Tentemos imaginar que os 13.7 bilhões de anos, idade do universo, sejam um único ano (apud Carl Sagan). Veremos como ao longo dos meses desse ano imaginário foram surgindo todos os seres até os últimos segundos do último minuto do último dia do ano. Qual é o lugar que nós ocupamos?
A primeiro de janeiro ocorreu a Grande Explosão.
A primeiro de março surgiram as estrelas vermelhas.
A 8 de maio, a Via Láctea.
A 9 setembro, o Sol.
A 1 de outubro, a Terra.
A 29 de outubro, a vida.
A 21 de dezembro, os peixes.
A 28 de dezembro às 8.00 horas, os mamíferos.
A 28 de dezembro às 18,00 horas, os pássaros.
A 31 dezembro às 17.00 horas nasceram os antepassados pre-humanos.
A 31 de dezembro às 22.00 horas entra em cena o ser humano primitivo, antropoide.
A 31 dezembro às 23 horas, 58 minutos e 10 segundos surgiu o homem sapiens.
A 31 de dezembro às 23.00 horas, 59 minutos e 56 segundos nasceu Jesus Cristo.
A 31 de dezembro às 23.00 horas, 59 minutos e 59 segundos Cabral chegou ao Brasil.
A 31 de dezembro às 23 horas, 59 minutos e 59,54 segundos, se fez a Independência do Brasil.
A 31 de dezembro às 23 minutos e 59.59 segundos nós nascemos.
Somos quase nada. Mas por ínfimos que sejamos é através de nós, de nossos olhos, ouvidos, que inteligência Terra contempla a grandeur do universo, seus irmãos e irmãs cósmicos. Para isso todos os elementos durante todo o processo da evolução se articularam de tal forma que a vida pudesse surgir e nós pudéssemos estar aqui e falar disso tudo. Se tivesse havido alguma pequena modificação as estrelas ou não se teriam formado ou, formadas, não teriam explodido e assim não teria havido o Sol, a Terra nem os 20 aminoácidos e as quatro bases nitrogenadas e nós não estaríamos aqui escrevendo sobre estas coisas.
Por esta razão testemunha o conhecido físico da Grã-Bretanha Freeman Dyson:” Quanto mais examino o universo e estudo os detalhes de sua arquitetura, tanto mais evidências encontro de que o universo, de alguma maneira, devia ter sabido que estávamos a caminho” (1979).
Leonardo Boff
Teólogo, escritor, filósofo e professor universitário brasileiro. Simpatizante do socialismo, Boff é expoente da teologia da libertação no Brasil e conhecido internacionalmente por sua defesa dos direitos dos pobres e excluídos.