Toda vez que abro o Facebook ele me pergunta: “O que você está pensando…?”

Acho que nem o Mark Zuckerberg tem ideia de como essa pergunta me faz pensar. É que “o pensamento parece uma coisa atoa, mas como é que a gente voa, quando começa a pensar…”

Agora, por exemplo, estou pensando nas milhões de pessoas, país afora, condenadas a ter como quase única opção de informação e lazer a TV aberta.

Estou sozinho num hotel, em Araxá, onde vim a trabalho. O evento que vou conduzir é às 17h. Tempo fechado, chuvoso, hotel distante de tudo.

Zapeio a TV: Globo, Band, Record, SBT…

Outros canais, só chuvisco.

Penso que isso explica em parte as cenas recentes de milhares de pessoas enfrentando horas de fila para se despedir do apresentador Gugu Liberato.

Até o presidente Bolsonaro embarcou na comoção geral, em nota oficial onde dizia:

“O país perde um dos maiores nomes da comunicação televisiva, que por décadas levou informação e alegria aos lares brasileiros…”.

A morte de qualquer pessoa me empobrece e entristece. Toda pessoa é da família humana a que pertenço. Nesse sentido, lamento a morte do apresentador, ainda mais nas circunstâncias em que ocorreu. Mas… a morte não nos isenta da responsabilidade pelo que fizemos em vida.

Gugu passou sua vida profissional na guerra pela audiência. E nessa guerra valeu tudo. Entrevistas forjadas, erotismo rasteiro, exploração piegas das misérias alheias. Serviu com “brilho” à “comunicação televisiva”, esse lixão que, agora, está à minha disposição neste solitário e cinzento quarto de hotel.

Pertenço à minoria que pode pagar a TV a Cabo mais cara do mundo.

Tenho acesso à internet no meu celular. Contrariando o presidente, sou assinante da Folha de São Paulo. Acesso blogs, dentro e fora da minha “bolha”. Ouço e interajo com o Rádio (saudades do Boechat). Concordo e discordo do Reinaldo Azevedo.

Tenho meu próprio blog, um canal no YouTube, conta no Instagram, esta, no Facebook onde posto minhas ideias e opiniões. Estou conectado, sou confirmado e contestado. Aprendo sempre, com os dois lados. Ou seja, tenho pra onde correr, pra onde possa exercitar meu senso crítico.

Milhões de brasileiros, não. Feito gado aboiado, celulares em riste para fazer a selfie fúnebre, alienados, in-felizes, correm pra fila, chorosos, pra enterrar o Gugu Liberato, sem saber que ele continua bem vivo e ao vivo, no ar, em todos os canais da TV aberta…

“Felicidade foi-se embora…?”

Eduardo Machado