A cada dia quando nasce o sol, os seres humanos iniciam a repetição de uma enormidade de procedimentos.
A higiene pessoal ao sair da cama. Uma dose de café para animar o corpo. Uma oração, breve, para que o dia ao trazer seus próprios males também traga com eles as alegrias.
Um deslocamento para o trabalho a pé, de bicicleta, de ônibus, de Uber, de taxi ou em moto ou carro particular.
E, no trabalho, mais uma série de rotinas para iniciar as atividades.
Cada um desses espaços permite um tipo de contato humano. Em casa, antes de sair, com os familiares, no deslocamento, para o trabalho, com os vizinhos e conhecidos, no trabalho, com os colegas.
Uma palavra que deverá estar presente a todo o tempo é o respeito. Uma das expressões que esclarece o significado da palavra respeito, no dicionário, é “ter em consideração”.
De certo modo, então, respeitar uma pessoa, ou seja, ter consideração por ela, significa reconhecer sua presença e atribuir a essa presença um certo valor.
Ao reconhecer a presença dos familiares em casa, atribuo a eles um certo valor humano, um certo sentido, significado. E a partir desse valor, sentido, significado produzo com este familiar minhas interações.
Ao reconhecer a presença de um vizinho na rua, no transporte coletivo, na portaria do prédio, atribuo a ele um sentido e significado e produzo então as interações.
Da mesma forma, os colegas de trabalho.
Cada um desses locais tem seu código de ética e código moral. E as interações decorrentes do respeito demonstrado a cada pessoa, reconhecimento de sua presença com atribuição de sentido e significado, deve convergir com o código de ética do ambiente.
Uma estratégia que raras vezes falha é tratar todas as pessoas como se fossem desconhecidas, e de um certo modo o são, pois o homem que entrou no rio quando sai do rio já não é mais o mesmo homem, de forma que o colega com quem se tomou um cafezinho ontem, hoje, no início da jornada de trabalho, já é um novo colega.
Ora, se todos são desconhecidos, se está a ter a cada instante um novo contato com o desconhecido. O contato com o desconhecido é e deve ser cuidadosamente tateado, olhe como a expressão “deve ser” convoca o atributo jurídico para todas as relações humanas.
É neste sentido que as relações humanas estão sempre a exigir de cada um este tato, este jeito pra lidar com as pessoas, este relacionamento a todo tempo como se fosse o interlocutor um desconhecido, de quem se quer informações para produzir a melhor interação possível.
Isso é jurídico.
Quando a Constituição da República diz que não será admitido no Brasil nenhum tipo de discriminação. E que o racismo será punido como crime inafiançável é desse respeito que se está a falar.
Primeiro, reconhecer a presença dos grupos humanos que historicamente foram colocados, por determinações culturais, numa posição de poderem ser discriminados. E atribuir a eles um valor, um valor que precisa ser compensatório, para que se garanta a igualdade entre seres humanos. Porque aqueles que nasceram num grupo historicamente e culturalmente colocados numa posição desfavorável, precisam de uma compensação para participar da sociedade em condições de igualdade.
No mês de novembro, será relembrado o dia de Zumbi de Palmares. Por isso, é muitíssimo importante aproveitar o período para refletir sobre o respeito.
Fala-se muito de respeito. Exige-se muito o respeito. Cobra-se muito que respeitem.
Mas pouco de fala sobre o que é respeitar. O próprio dicionário diz: Respeito – Ato ou efeito de respeitar. Respeitar – Ter respeito, ter consideração.
Na prática, respeitar é reconhecer a presença do outro e atribuir a esta presença um sentido ou um significado e a partir desse sentido ou significado estabelecer as interações. E estas interações devem necessariamente seguir um conjunto de valores dado pela ética do ambiente, pela moral da família e com certeza pela Constituição e pelas Leis do país.
Agora resta explorar o terreno desconhecido das outras pessoas, ainda que com elas tenha uma convivência de anos a fio.
Wagner Dias Ferreira – Dom Total