Leonardo Boff já foi frade, padre, teólogo, filósofo, ecólogo. Hoje, com 81 anos de idade e mais de 100 livros publicados, ele se define como pensador. Expulso da hierarquia católica por sua defesa da teologia da libertação, ele continuou sua profissão de fé, aproximando-se cada vez mais dos pobres e das minorias, além de abraçar o ecumenismo e o ambientalismo.

Sua análise da atualidade, que ele chama de necroceno (uma idade geológica em que homem está espalhando a morte pelo planeta), aponta para um período de transição. “Houve a globalização da economia, mas não se globalizou a solidariedade e a cooperação. Isto ficou patente com a pandemia. Cada país se defende por si e como pode”, sentenciou o teólogo que vive em Petrópolis (RJ).

Para ele, enquanto a humanidade não completar esse ciclo, vão surgir líderes nacionalistas reacionários que vão vender uma segurança enganosa de volta ao passado. Na turbulência dessas crises, “parece que tudo vacila, as coisas já não valem como valiam, não há limites e respeito, inclusive aos direitos humanos”.

Boff também critica as igrejas neopentecostais, suas teologias da prosperidade e seu fundamentalismo religioso. “Enchem grandes salões, mas não criam comunidades nem consciência crítica face à própria realidade em que vivem de pobreza e marginalidade”, critica.

De qualquer forma, Boff acredita em um final feliz depois de tanta tensão. “Sou otimista. A lógica do universo se constrói sempre entre o caos e a ordem. E a ordem prevalece. Deus criou todas as coisas com amor. Não creio que Ele nos deixará perecer de forma tão miserável. A vida chama a vida. E viver é realizar a alegre celebração da vida.”

Como a fé pode ajudar a humanidade a recuperar o senso comunitário e ecológico em momentos de emergência social e climática como a que vivemos? Como encontrar esperanças em um período de devastação da natureza, com queimadas e desmatamentos por um lado, e uma crise biológica e social como a pandemia?

A natureza da fé e de sua expressão social como igrejas e caminhos espirituais se funda sobre valores altamente éticos de amor incondicional. No caso do cristianismo, de solidariedade entre as pessoas, de atenção especial aos pobres e desvalidos, e de cuidado da criação e veneração ao mistério de Deus. Como tudo o que é sadio pode ficar doente, também as religiões podem incorporar doenças como o fundamentalismo, a discriminação e a rejeição de certas condições sexuais.

Elas podem entrar na lógica do mercado, conquistando mais gente e cobrando-lhes o dízimo, como é o caso das igrejas que pregam o evangelho da prosperidade. Mas estas são distorções da verdadeira natureza da religião e da fé. Assim como toda doença remete à saúde, elas não destroem, apenas deturpam a verdadeira natureza da fé e da religião. Estas existem como expressão da dimensão profunda no ser humano, onde se colocam as questões essenciais como: vale mais a vida ou o lucro? Vale mais a solidariedade, que se abre aos outros, ou a competição, que se fecha no individualismo? Quem nos deu o direito, no afã de buscar o bem-estar e a riqueza, de desmatar vastas regiões, de poluir as águas e o ar e de contaminar quimicamente nossos alimentos?

Onde há religião há também esperança de que tudo pode ser melhor e de que podemos enfrentar solidariamente graves crises como a do Covid-19. A fé confere à vida um sentido último e bom. Hoje, o que nos está salvando é a solidariedade, o senso de interdependência entre todos e o cuidado de uns para com os outros e com a natureza. Vivendo tais valores, as religiões ajudam a enfrentar a pandemia.

Acredita que a luta pela natureza e pelo planeta é também uma busca espiritual? Muita gente ligada ao ambientalismo aponta que quanto mais se interessam por temas ecológicos mais desenvolvem um lado religioso por conta da aproximação da natureza e seus ciclos. Como vê isso?

Há o testemunho de grandes cientistas como Albert Einstein, Stephen Hawking, Francis Collins e tantos outros que afirmam que o contato profundo com a natureza os levaram a um sentimento de reverência e de respeito face ao mistério da existência, da vida, da complexidade e da riqueza da natureza. Esta não é apenas uma realidade muda. Ela fala da beleza, da grandeza, da sutil relação de todos os seres entre si e nos faz perceber que por detrás há uma energia poderosa e amorosa que sustenta todas as coisas.

Os modernos cosmólogos e astrofísicos a chamam de “fonte originária”, de onde vem todos os seres, ou o “abismo gerador” de todas as coisas. Francisco de Assis no mundo medieval e Pierre Teilhard de Chardin no mundo moderno viam em todas as coisas a presença viva e transformadora dessa energia criativa, chamando-a de Deus. Viam todos os seres como sacramentos, como sinais de sua presença. Hoje é no campo da ecologia que se realizam as mais genuínas experiências espirituais. Todos se sentem ligados a um todo que tudo envolve, sustenta e transcende.

Como analisa a espiritualidade nos dias atuais e entre os jovens? O que mudou em relação à sua juventude e sua própria busca espiritual?
Apesar da cultura do capital, que reforça em todos o consumo, muitos são os jovens que são abertos a valor intangíveis como ao amor sincero, a contemplação da natureza e até a busca de um sentido mais profundo do que aquele que é superficialmente oferecido pela cultura da tecnociência com seus infindáveis aparatos. Isso mostra que o ser humano tem duas fomes essenciais: a de pão e de bens materiais, que é saciável, mas também a outra fome de bens espirituais por beleza, pelo encontro profundo com o outro e consigo mesmo e por uma realidade maior que dá sentido à nossa vida e à história.

Se considera uma pessoa feliz? Qual é, na sua visão, o caminho para a felicidade?

Não gosto muito desta terminologia, afinal, a felicidade pode ser algo muito fugaz como aquele que se sente feliz depois de uma dose de cocaína. Creio que a pergunta seria esta: você se sente realizado com sua vida, com quem convive e com o que faz? O que empenha na sua autorrealização? Esse caminho é mais longo, lentamente vai se construindo. E, se tiver realizado uma identidade bem-sucedida, tem como resultado uma felicidade serena e segura. Numa figura do poeta gaúcho Mário Quintana: “se quiseres pegar borboletas, não corras atrás delas, mas plante um jardim”. No jardim plantado com carinho está a felicidade e não nas borboletas.

Como tem encarado a velhice e que conselho daria para as pessoas idosas? É mais fácil lidar com ela tendo uma religião ou não?

Não entendo a velhice como uma fatalidade, mas como parte da condição humana, um momento da vida em que podemos fazer uma síntese de nossa história, reconhecer os desvios e acertos e madurarmos como pessoas que aceitam esta idade com seus limites de corpo e de mente, sem amargura e com jovialidade. A velhice nos coloca as derradeiras questões: que posso esperar para além desta cansada existência? Como será o outro lado? Pessoas de fé se preparam para o grande encontro com a suprema realidade, feita de amor e de misericórdia.

A vida não foi feita para terminar na morte, mas para se transfigurar e ressuscitar no momento mesmo da morte. Isso quer dizer: o mundo para ela chegou ao seu fim. Logo segue a ressurreição como a plena realização das virtualidades quase infinitas em nosso ser. Diria como o poeta cubano José Martí: “morrer é fechar os olhos para ver melhor” a nossa própria realidade, o nosso lugar no conjunto dos seres do universo e a realidade suprema que nos colocou no mundo e nos chama de volta para o seu seio.

Se tivesse que apontar um legado de sua vida e obra, qual seria? Quando jovem teria imaginado esse caminho da teologia da libertação, ecumenismo e ecologismo?

Para ser sincero, nunca alimentei um projeto pessoal. Fiz o que me pediam. Tentei fazê-lo da forma melhor que podia. A vida e não a vontade me levaram às várias etapas que vivi: o ser frade franciscano, padre, professor de teologia, depois leigo, filósofo, teólogo peregrino (sem cátedra), ecólogo, escritor e velho. Ao chegar diante de Deus, não direi nada: apenas mostrarei as mãos afetadas pelo ofício de escrever e abrirei o coração cheio de nomes que me acompanharam para ser o que sou. O que sou? Não sei. Deus o revelará.

Haveria espaço atualmente para o surgimento de uma renovação como foi a teologia da libertação em seu tempo, afinal, vivemos uma época com governantes conservadores como nos anos 1970? Consegue imaginar como seria a teologia da libertação se surgisse na atualidade?

A teologia da libertação nunca deixou de existir, apenas possui menos visibilidade. Seu eixo estruturador é a opção pelos pobres, contra a pobreza, pela justiça social e pela libertação. Como os pobres não param de crescer entre nós e no mundo, esta teologia se torna ainda mais atual na medida em que se faz em contato e junto com todos estes oprimidos. Ela é mundialmente tão forte que sempre dois dias antes de cada Fórum Social Mundial fazemos o encontro internacional de teologia da libertação em suas várias expressões e sempre estão presentes por volta de três mil pessoas vindas da Coreia do Sul, das Filipinas, da África, de todos os países da América Latina e de grupos que cultivam esta teologia dentro do mundo abastado dos Estados Unidos e da Europa.

Aí notamos a sua vitalidade, especialmente da nova geração, em geral de leigos e leigas engajados no mundo da pobreza ou em movimentos populares. Hoje no Brasil, é viva nos movimentos sociais como dos sem-terra, dos sem-teto, dos negros, das mulheres, dos indígenas e de grupos de direitos humanos e na vasta articulação que vem sob o nome de “Fé e Política”. Aí está a verdadeira teologia da libertação, feita por seus próprios protagonistas, numa construção coletiva da reflexão sobre uma fé libertadora.

Para todos, é claro que o contrário da pobreza não é a riqueza, mas a justiça social, o bem de maior carência entre nós. A graça que nos foi concedida foi um papa, Francisco, que vem do caldo desta cultura de libertação de vertente argentina, mas sempre de libertação dando centralidade ao mundo dos pobres.

Como vê o papado de Francisco em comparação ao antecessor, Bento 16? O quanto a disputa entre conservadores e progressistas é a dinâmica dentro da hierarquia católica?

Vejo com os dois papas, Bento 16 e Francisco, dois modelos de igreja, difíceis de se conciliar. Tanto o papa João Paulo 2º quanto Bento 16 entendiam a Igreja como um castelo cercado de inimigos internos e externos contra os quais havia que se defender e até condenar. Era uma Igreja que autofinalizava e tentou introduzir a grande disciplina, clássica da Igreja tradicional. O papa Francisco, vindo do fim do mundo, com outra experiência pessoal, vê a Igreja como um hospital de campanha que acolhe a quem estiver ferido e necessitado sem nenhuma pré-condição. Com ele mesmo diz: “é uma Igreja em saída” ao encontro dos problemas existenciais e mundiais. Respeita as doutrinas, mas diz que o importante é entender que Jesus veio para nos ensinar a viver, a viver os bens do Reino que são o amor incondicional, a generosidade, a solidariedade e a preocupação incansável com os condenados e ofendidos da Terra.

Francisco foi o primeiro papa que se conscientizou da emergência ecológica da Terra e escreveu uma respeitável encíclica de ecologia integral (não só verde) “sobre como cuidar da Casa Comum”, em 2015, cujo destinatário é a humanidade inteira e não apenas os cristãos. Ele insiste em algo fundamental que rompe com a rigidez da Igreja anterior, a “relação de ternura” para com todas as pessoas, dando preferência aos mais vulneráveis e invisíveis.

Qual é a sua análise do crescimento das religiões evangélicas nas camadas populares justamente nos anos em que as comunidades eclesiais de base e a teologia da libertação foram desestimuladas pela Igreja Católica? O próprio Vaticano abriu espaço para as denominações neopentecostais no Brasil entres os pobres do país ao se afastar dessa população?

A Igreja Católica no Brasil possui uma grave deficiência institucional: deveria ter pelo menos 100 mil padres para atender as demandas religiosas dos fiéis tradicionalmente católicos. Sequer possui 20 mil padres e muitos deles estrangeiros. A criação de milhares de comunidades eclesiais de base foi um modo encontrado para suprir esse vazio. Mas o vazio continuou.

Como o povo brasileiro é no seu geral muito religioso e não tendo uma visão doutrinária da fé, adere com facilidade a quem lhe vem falar de Deus. Assim as igrejas neopentecostias ocuparam esse vazio. Atendem em sua maioria as populações destituídas socialmente, cheias de carências materiais e também espirituais. Pregam-lhe o evangelho da prosperidade, que pouco ou nada tem a ver com a tradição de Jesus. Em nenhum sermão destes pastores, muitos deles lobos em pele de ovelha por explorarem a ingenuidade dos fiéis, se ouve “bem-aventurado os pobres porque de vocês é o Reino de Deus” ou “Ai de vocês ricos, pois tende já a sua consolação”, afinal, tais mensagens são contraditórias para o que prometem em riqueza material a seus ouvintes.

Enchem grandes salões, mas não criam comunidades nem consciência crítica face à própria realidade em que vivem de pobreza e marginalidade. É um desafio para as igrejas cristãs históricas como mostrar a estes fiéis que os valores pregados por Jesus, de amor, de solidariedade para com os pobres é melhor e os torna mais felizes. Como diz o papa Francisco, “Deus não conhece uma condenação eterna”, e esta é só temporal, pois a misericórdia de Deus é que não tem limites, e Ele não pode condenar nenhum de seus filhos e filhas que criou e amou. Só esta afirmação invalida tantas ameaças de inferno e de condenação eterna com as quais estas igrejas manipulam os fiéis e, por medo, os conquistam.

Qual é a sua opinião sobre um fundamentalismo cristão que ocupou espaço na política e no próprio governo federal nos últimos anos? Como diminuir o impacto desse fundamentalismo no Brasil e lidar com ele?

Esta é até uma questão jurídico-constitucional, pois o Estado é laico, quer dizer, ele não assume nenhuma religião ou igreja como sua, mas respeita a todas dentro dos quadros da lei. Estas igrejas neopentecostais praticam um abuso da religião, fazendo-a um instrumento político conservador e até reacionário, não raro se torna um foco de fake news e perseguição das religiões de vertente africana.

É um desafio, pois se constitui a base de um governo de extrema direita como o atual, que usa estas igrejas para garantir-se no poder, sem qualquer preocupação com aquilo que diz a Constituição e mesmo o que diz a Bíblia.

Acredita que o negacionismo científico e climático esteja por trás da guinada conservadora que o mundo e, especialmente o Brasil, vive na atualidade? Como vê a questão de o próprio conhecimento estar sob ataque, com movimentos contrários a ciência e a acadêmica?

Vejo como um retrocesso civilizatório e por outro lado um distanciamento pela inflação do próprio projeto técnico-científico. O ser humano moderno cultivou uma espécie de “complexo de Deus” que, pelos meios da ciência e da técnica, tudo poderia. O vírus Covid-19 destruiu esta pretensão, mostrou nossa radical vulnerabilidade, expostos à imprevisibilidade e pôs de joelhos as potências militaristas com suas milhares de ogivas nucleares, armas químicas e biológicas. São absolutamente ineficazes face a esse vírus.

Isso criou uma espécie de desconfiança face à ciência e à técnica. Ela é falsa, pois não daremos conta da complexidade de nossas sociedades modernas sem ciência e tecnologia. Se não houver confiança nesse saber, como poderemos enfrentar a pandemia? Entregaremos a humanidade a um destino trágico? Seria uma suprema irresponsabilidade. O que precisamos é uma relação mais benigna para com a natureza. O avanço do industrialismo moderno destruiu os habitats dos vírus, e estes passaram a nós, face aos quais não temos imunidade. Poucos falam da natureza, tudo se concentra na ciência, nos insumos e na busca desenfreada de uma vacina. Mas o vírus vem da natureza devastada. Se não cuidarmos dela, ela pode nos enviar outros vírus letais e até, como aventam alguns biólogos, o “Próximo Grande” (The Next Big One) contra o qual não haveria nenhuma vacina e poria fim à espécie humana.

O que aconteceu no mundo para os próprios direitos humanos serem alvo de ataques? Por que hoje volta-se a lutar por questões básicas, tidas como conquistas da humanidade? Nesse aspecto, como vê o caso do padre Júlio Lancelotti, que foi recentemente alvo de ofensas em público por ajudar as pessoas mais vulneráveis da sociedade?

Vivemos uma transição de um tipo de mundo, construído sobre as soberanias nacionais, para um outro, já em curso, que é a nova fase da Terra e da humanidade: a planetização ou globalização. Demo-nos conta, especialmente com o testemunho dos astronautas que viram a Terra de fora, que formamos uma única entidade. Estamos todos juntos à natureza, à cultura e aos povos numa única casa comum.

Houve a globalização da economia e das finanças. Mas não houve um pacto social mundial, nem se globalizou a solidariedade e a cooperação. Isto ficou patente com a pandemia. Cada país se defendia por si e como podia. Deram-se conta de que isso era insuficiente e que deveriam ajudar-se mutuamente, como a União Europeia tardiamente percebeu.

Sempre que há transição de um paradigma cultural a outro se instaura uma crise. Parece que tudo vacila. Que as coisas já não valem como valiam. Por isso, não há limites. E não havendo limites, não há respeito, inclusive aos direitos humanos. Isso se nota nas ameaças de morte ao padre Júlio Lancellotti, que defende os direitos da população de rua, dando-lhes o mínimo necessário para viver e ter o sentido de dignidade. Como isso é escandaloso para uma sociedade, refém da cultura do capital, consumista e inimiga dos pobres, o perseguem, como se perseguissem esses pobres e desprezados. Mas ele dá o testemunho que não há nada mais valoroso que a vida, mesmo dos mais humildes, que nos cabe cuidar. É uma linguagem estranha a uma visão de mundo de eficiência e de ganho. Mesmo a democracia se transforma em farsa, num estado de exceção e sem lei.

O ser humano dificilmente vive sem uma certa ordem, como antropólogos e sociólogos o demonstraram. Quando esta começa a se erodir, as pessoas se agarram ao que consideram mais seguro, a valores do passado, a líderes carismáticos, que podem apontar para o novo, ou aos autoritários, que podem reforçar a volta ao antigo. É o que está ocorrendo quase em todo o mundo. É semelhante à crise da passagem do mundo feudal ao mundo moderno, onde tudo teve que ser redefinido. Somente que agora a realidade é muito mais grave: construímos o princípio de autodestruição, inauguramos o antropoceno e o necroceno (extinção em massa de vidas na natureza e na humanidade).

Não podemos errar, pois podemos nos autodestruir. Essa passagem causa angústias e é mais ou menos como um avião voando sem piloto. Daí surgem os fundamentalismos, prometendo seguranças enganosas, movimentos regressivos e violentos. Vivemos mais que uma crise mundial: é um chamado a inaugurarmos um novo começo com um outro paradigma de civilização. Se os fatores forem cuidados, podemos criar as bases de uma civilização biocentrada. A vida, e não o crescimento ilimitado, ganhará a centralidade. A política e a economia estarão a serviço dos seres vivos, e não ao mercado.

Em todo caso, está ficando claro que não haverá economia sem uma ecologia. Sem esta articulação, nas palavras de Zygmunt Baumann, “engrossaremos o cortejo daqueles que rumam na direção de sua própria sepultura”. Sou otimista: a lógica do universo se constrói sempre entre o caos e ordem, prevalecendo esta de forma superior, e a fé cristã que afirma que Deus, segundo o Livro da Sabedoria, na Bíblia, “criou todas as coisas com amor e é o apaixonado amante da vida”. Não creio que nos deixará perecer de forma tão miserável. A vida chama à vida. E viver é realizar a alegre celebração da vida.

  • entrevista Rodrigo Bertoloto – ECOA/UOL

 

Leonardo Boff
Teólogo, escritor, filósofo e professor universitário brasileiro. Simpatizante do socialismo, Boff é expoente da teologia da libertação no Brasil e conhecido internacionalmente por sua defesa dos direitos dos pobres e excluídos.