Imagine um cenário em que o lixo dominou o mundo. Montanhas de entulho, resíduos e dejetos lançariam sombra sobre prédios do calibre de um Empire State Building, em Nova York. A sujeira e poluição seria tanta que não conseguiríamos controlá-la. Então, inventaríamos robôs para rodar o mundo com o objetivo de juntar esse lixo, compactá-lo e amontoá-lo no menor espaço possível. Ainda assim, graças ao descaso crônico com o meio ambiente e nossa incapacidade de lidar com o consumismo crescente, a Terra finalmente se tornaria inabitável para nós e todos os outros seres vivos.

Forçados a permanecer em casa, começamos a consumir produtos em delivery em quantidades muito maiores. E nossa produção doméstica de lixo, e principalmente de líxo plástico, foi crescendo, tornando ainda mais graves os riscos ao meio ambiente.

O @bancomundial estima que hoje sejam produzidas 2,01 bilhões de toneladas de lixo sólido por ano, número que deve saltar para 3,4 bilhões até 2050. Haverá mais plástico do que peixes no oceano até 2050, diz o estudo.

E, se a tendência já não era positiva, em 2020 a pandemia veio para atrapalhar ainda mais essa conta.

O caso brasileiro é dramático: o país é o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo e recicla apenas 1,2% do lixo produzido com esse material, diz estudo da WWF. O grande problema do plástico é que ele nunca será outra coisa além de plástico, diz o diretor-geral da Oceana no Brasil, Ademilson Zamboni. “Não se biodegrada e, cada vez que se recicla, se transforma num produto pior do que era anteriormente, até virar lixo e não poder mais ser reciclado.”

Para Zamboni, a indústria tem aproveitado a pandemia para desconstruir a visão negativa que o material tem em relação ao meio ambiente. Por isso, investe no plástico como forma de criar melhores condições sanitárias e uma suposta maneira de evitar a transmissão do vírus.

“Só que isso é uma balela porque, se embalar com plástico mas manipular errado, vai contaminar da mesma forma. E não são todos os plásticos que estão aptos a ajudar contra a Covid-19, existe uma categoria imensa que não funciona”, diz.

Só uma solução
Vitor Pinheiro, que coordena a campanha Mares Limpos, ressalta que, embora seja parte da solução, a reciclagem ainda está longe de ser suficiente e não pode ser vista como principal forma de controlar o uso de plástico.

A principal aposta, portanto, deve ser criar mecanismos de redução de sua produção e uso, aponta o analista. Em parceria com a Oceana, a Pnuma lançou em dezembro a campanha #DeLivreDePlastico, que incentiva usuários a postarem fotos de seus pedidos com embalagens de plástico descartável. A ideia é pressionar empresas como o iFood e o Uber Eats a adotar medidas que levem a uma transição para entregas sem usar o material. Algumas das medidas sugeridas às plataformas são oferecer ao usuário a opção de embalagens sem plástico, dar destaque a restaurantes que não usam o material e abrir diálogo para a utilização de embalagens mais sustentáveis.

“Pedimos que os aplicativos se responsabilizem porque são o vetor de ampliação do delivery. A ideia é que eles sejam protagonistas na busca por soluções.”

Leonardo Neiva – Gama Revista