Vez por outra cresce em mim um impulso que, imagino, é comum a muita gente: cancelar e fechar minhas páginas nas Redes Sociais. Especialmente quando percebo nas linhas e entrelinhas de alguns comentários o discurso de ódio que se manifesta nas diferentes extremidades desse meu minifúndio virtual.

Se o equilíbrio está no caminho do meio, aqui os extremos acabam por se tocar, vergados pela mão dupla da intolerância, da violência e dos preconceitos.

Isso me assusta e entristece. Vem o desânimo, o cansaço, a vontade de chutar o arquivo da lixeira…

Em momentos assim, tento recordar (re-cordis = trazer de novo ao coração) o triplo chamado à santidade que recebi quando do meu batismo. Após o rito batismal, acontece a unção com o mesmo óleo do crisma e o sacerdote diz: “Assim como Cristo foi ungido Sacerdote, Profeta e Rei, que você também viva como membro do Seu corpo”.

Essa unção é afirmação de uma vocação: somos chamados a assumir a missão de sacerdotes, profetas e reis. Mesmo no laicato.

Enquanto os ordenados assumem o sacerdócio ministerial, nós, leigos, pelo batismo, somos, com eles, uma comunidade sacerdotal. Exercemos nosso sacerdócio batismal através da adesão, cada qual segundo sua vocação própria (’Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo’… 1Cor.12,4), à missão de Jesus de Nazaré: ‘amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo’ (Mateus 22,37-39).

O leigo se faz profeta quando anuncia e dá testemunho da Boa Nova, quando vive a essência do mandamento do amor. Todas as vezes que vivemos a verdadeira dimensão amorosa, em suas muitas expressões, estamos atualizando a presença de Deus, que é o próprio Amor, no meio de nós.

A função de rei é exercida quando experimentamos o ‘reinado amoroso’ de Jesus, por nosso intermédio, fazendo acontecer renovação e vida nova onde ela é mais necessária. E o que caracteriza o reinado de Jesus?

O amor-serviço: ‘O maior de vocês seja aquele que serve’. (Lc,22-27).

Jesus é mesmo um rei diferente…

Essa meditação me faz um chamado à reponsabilidade: as Redes Sociais são, hoje, território de missão.

Só que…

Além de sacerdote, profeta e rei sou, também, pecador…

É o que me salva.

A percepção das minhas fragilidades e contradições, tão humanas, me faz mais compreensivo e tolerante com as fragilidades e contradições dos meus irmãos e irmãs de Rede. Talvez o único benefício do pecado seja lembrar-me a necessidade do perdão, do exercício de humildade capaz de me fazer entender e acolher o outro também na suas fragilidades e contradições. E, com plena consciência das minhas limitações, me colocar a serviço do amor, ser sinal do amor, ser sacramento do amor.

Nessa trilha, quem me ajuda é Jeremias… (Jeremias 1,5-9)

– “Antes que te formasses dentro do seio da tua mãe, antes que tu nascesses eu já te conhecia (te amava|) e te consagrei para ser meu profeta no Facebook, no Twitter, no YouTube, no WhatsApp. Irás às páginas aonde enviar-te e o que te mando postarás.

– Então disse eu: Ah, Senhor Deus! Eis que não sei teclar; porque sou limitado, frágil e contraditório como um menino….

Mas o Senhor me disse:

– Não digas, eu sou um menino; porque a todos a quem eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar, teclarás. Não temas porque estou contigo, disse o Senhor.

E estendeu a sua mão e tocou a minha mão, conduzindo-a.

Eis que ponho as minhas palavras no teu teclado.

E, juntos, apertamos a tecla ENTER…

Eduardo Machado
Educador, Escritor, apaixonado pelo ser humano, um católico que tenta, cada dia mais, tornar-se cristão.