Admitir a urgência de mudanças é um dos maiores desafios existenciais. Reconhecer a necessidade de promover transformações exige percorrer um longo caminho. É superar obstáculos que incluem o apego a garantias e confortos e a resistência ao novo. Diante das dificuldades, a tendência é resistir às mudanças nos processos existenciais, sociopolíticos e culturais, causando uma cadeia de prejuízos à sociedade. O ser humano é constantemente desafiado a compreender que as mudanças e as conquistas de novas etapas são uma exigência da vida.
Nesse horizonte, a celebração do Natal é oportunidade para assumir o desafio de encontrar respostas novas, o que exige flexibilidade. Resiste-se a mudanças porque falta a clarividência para enxergar um percurso diferente, capaz de dar rumo novo à vida, aos muitos processos que constituem responsabilidades pessoais e profissionais. O conforto conquistado, quando emoldurado por mediocridades, cega a competência para perceber a hora de mudar. As consequências são sempre tristes: vidas naufragam e as oportunidades para qualificar a sociedade são perdidas. Tudo porque uma pessoa ou segmento social acredita estar preso a uma situação em que as mudanças não são possíveis. Percebe-se, assim, que o vetor mais preponderante na resistência às mudanças é a mentalidade.
Posturas pouco cidadãs emolduram atitudes mesquinhas. Atitudes que revelam uma visão obscurecida, impedindo o “pensar grande”, prejudicam modos de agir que poderiam atender aos anseios da realidade social, política, cultural e religiosa. Crescem os equívocos nas escolhas. Agravam-se o fenômeno das considerações aprisionadas no enrijecimento e a visão distorcida do mundo. A tendência é a repetição de esquemas falidos que provocam colapsos institucionais e existenciais. Com isso, são desperdiçadas riquezas e possibilidades, substituídas pela mediocridade que contamina a convivência cidadã. Compreende-se, assim, a razão de uma nação rica, com potencial para ser uma economia forte, estar ferida por cenários de exclusão social e desigualdades que alimentam a violência.
A flexibilidade para viver transformações é uma urgência e o Natal – acontecimento de proporções incalculáveis – aponta a mudança que o ser humano precisa buscar, de modo engajado, como prática existencial. A encarnação do Verbo de Deus, Jesus Cristo, é a mais perfeita indicação de que a humanidade só avança quando se abre às reformulações necessárias. O Mestre ensina cada pessoa a compreender-se como sujeito de mudanças, capaz de alcançar um estágio de desenvolvimento que somente o ser humano, no conjunto de toda a criação de Deus, pode alcançar. Essa lição é revelada na encarnação do Verbo, assumindo a condição humana, igual em tudo, exceto no pecado. E, se mudar o ser humano, muda o mundo, a vida, a história.
O Natal é a vinda do Salvador que fecunda transformações em todos, para que, assim, se tornem autores de uma nova história, capazes de qualificar a sociedade, promovendo e respeitando a dignidade humana. Celebrar o Natal, além das festas, gastos, enfeites e barulhos é, sobretudo, a oportunidade para assumir, na própria vida, novos propósitos, priorizando o compromisso de cultivar a solidariedade e a fraternidade – um advento de urgentes e inadiáveis mudanças.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).