A ONU consagra o 11 de julho como Dia Mundial da População. Há quem veja nessa data um alerta para se encontrar meios de diminuir a população da Terra. Atualmente a população humana está chegando perto de oito bilhões de pessoas no mundo. O planeta Terra teria recursos para alimentar e prover a vida de 11 bilhões de seres humanos. No entanto, isso não será possível se a atual geração se comporta de forma irresponsável e egoísta no uso da água, dos alimentos e dos bens que deveriam ser comuns a toda a humanidade.
Com este Dia Mundial da População, a ONU quer chamar a atenção da humanidade para a urgência de um planejamento mais cuidadoso para favorecer a vida de todos e maior cuidado com o planeta, para que a terra não se torne inabitável. A cada ano, a população da Terra registra um aumento de mais ou menos 75 milhões de pessoas.
Não temos os dados a partir da pandemia, mas sabemos que a população cresce na África e diminui em alguns países ricos. Além disso, é escandaloso saber que, enquanto no Japão, na Suécia e outros países ricos, a média de vida é de 80 anos, em países africanos, como a Zâmbia e o Zimbabue, é considerado feliz quem atinge a idade de 35. Atualmente, nos países ricos, quem quer está vacinado. Em países pobres, a taxa de pessoas vacinadas mal ultrapassa 10% e em alguns países mais estranhos, surgem perguntas até sobre as datas de validade das vacinas.
Como afirmava o Mahatma Gandhi, a terra é suficientemente fértil e pode alimentar quase o dobro da população humana. No entanto, não basta para saciar a ambição da pequena elite econômica que domina o planeta. Em 2015, a ONU publicou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para o Mundo, a serem alcançados nesses próximos quinze anos. De acordo com essa meta, esperava-se que até 2030, a humanidade tivesse conseguido proporcionar segurança alimentar e água potável para toda a população da terra. A pandemia veio revelar que essa meta fica cada vez mais longe de ser alcançada. Em plena pandemia, desigualdades sociais se multiplicaram, os mais ricos triplicaram os seus ganhos e muitos governos aumentaram os gastos em armamentos.
Cada vez mais fica claro: se a sociedade dominante não mudar o modo de organizar o mundo, todo o sistema de vida no planeta Terra está ameaçado. Com o aquecimento global e a destruição provocada pela sociedade capitalista na natureza, mudou a temperatura na superfície do planeta e na sua atmosfera. Entramos em uma nova era geológica.
Essa nova idade da Terra, que se sucedeu ao Holoceno, recebeu dos cientistas o nome de Antropoceno, porque é provocada pelo ser humano (antropos). Cientistas de diversos países estudaram a quantidade de energia ou calor que entra na atmosfera. Essa energia se acumula nos reservatórios do planeta, como os oceanos, as geleiras e o próprio solo da terra. Eles compararam e descobriram que o calor ali acumulado é equivalente a 0,58 W/m2. Segundo eles, é um calor equivalente ao provocado pela explosão de 400 mil bombas atômicas. Diante dessa realidade, é urgente que a sociedade civil se organize mais e pressione os governos e empresas para que assumam sua responsabilidade em relação ao futuro. No Dia Mundial da População, é importante refletir sobre que mundo entregaremos aos filhos dos nossos filhos.
Quem crê em Deus como Amor sabe que, ao agredir a natureza, se ataca o próprio Criador. Ao mesmo tempo, quando trabalhamos para salvar uma nascente de água, preservar um pedaço de mata ou simplesmente possibilitar uma agricultura ecológica, estamos cuidando da vida e, concretamente, do futuro da população humana. Se somos crentes, estamos colaborando com o Espírito Mãe da Vida que, no universo, mantém permanentemente o evoluir de sua criação.
O papa Francisco tem insistido com toda a humanidade para criar nova consciência ecológica e retomar a proposta da fraternidade humana. Na encíclica Fratelli Tutti, ele nos lança este convite:
“Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos e filhas dessa mesma terra que nos abriga a todos e todas, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos e irmãs” (FT 8).
Marcelo Barros
Monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adora os movimentos populares e especialmente o MST.