Sem diálogo não há desenvolvimento possível de nossa humanidade. O acirramento nas relações sociais, que temos visto cada vez mais marcadas pela violência, revela uma das consequências de nos fecharmos em nossa própria estrutura de pensamento, apegando-nos a ela com uma noção de verdade em que não há chances mínimas de ser questionada. Fora da escuta de outras compreensões e de visões de mundo, esclerosamo-nos. Escutar, apenas, quem discursa aquilo que é o que nós pensamos, coloca-nos numa posição bastante complicada: acabamos por acreditar que temos razão indiscutível em nossa verdade, sendo que esta verdade é apenas um traço da absurdamente complexa realidade que nos cerca.
Dialogar é mais que expor opiniões. O diálogo é condição necessária para o alargamento do mundo e para a ampliação de nossos horizontes. Além disso, é preciso que consideremos que nem tudo é opinião, quando, por exemplo, fatos certificados na realidade são questionados ou pessoas são desrespeitadas e indignificadas. Dialogando, temos a possibilidade de avaliarmos melhor nosso próprio lugar no mundo, nossa identidade, aquilo que nos constitui, ao passo em que temos a oportunidade de conhecer um pouco o mundo do outro, conhecer sua experiência na leitura da realidade, descobrir nossas compreensões e verdades.
Uma postura dialógica é um serviço de paz. Educar uma sociedade para o diálogo é, entre outras coisas, impedir o autoritarismo, o domínio violento (não apenas provocado por armas) dos agentes em posição de poder, o negacionismo que nos coloca a todos e todas em risco, como temos visto atualmente, na maior crise de nosso século. Dialogar, a partir de diferentes fontes de saber, torna possível o amadurecimento de nossas relações sociais, a compreensão situacional pela qual passa nossa cultura, a descobertas de caminhos possíveis para a evolução da história. Foi pensando também nisso, que três importantes instituições de ensino – Dom Helder Escola de Direito; Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia; e Escola de Engenharia de Minas Gerais -, localizadas em Belo Horizonte, fizeram a proposta de um seminário, cujo tema foi: Diálogos para a paz: solução de conflitos, construção de caminhos, no qual foram reunidos representantes da Filosofia, do Direito, da Teologia e da Engenharia para leituras dialógicas do tempo presente.
Deste seminário é que surgiu o presente Dom Especial, no qual retomamos os temas chaves debatidos na ocasião do evento, e que gostaríamos de publicizar também por aqui. O primeiro artigo, Pensar outramente: o despertar da responsabilidade digital, é proposto por Gabriel Vilardi (que publicaremos a seguir) e reflete sobre a importância de a política assumir o diálogo como caminho irrenunciável. Isaías Gomes da Silva, no artigo Um compromisso no diálogo inter-religioso, pauta o tema da liberdade religiosa, sustentada pela laicidade do Estado definida em nossa Constituição, inspirando a acolhida da pluralidade religiosa em nosso país como possibilidade de convívio de fraternidade e promoção da paz. Por fim, Paulo Veríssimo reflete sobre tema candente na atualidade, a respeito do qual não podemos nos furtar em refletir, no artigo Hackear a cultura na sociedade digital.
Felipe Magalhães Francisco – Dom Total