Na segunda-feira, 9 de agosto, a ONU publicou o relatório do grupo de peritos formado por 234 cientistas internacionais sobre a realidade da crise ecológica na Terra. De fato, a destruição das condições de vida no planeta avança de forma assustadora. O aquecimento global que já era previsto e esperado alcançou níveis que os cientistas calculavam que não viriam antes de dez anos. Essa realidade já provoca inundações maiores do que as de sempre. Em algumas regiões se traduzirá em secas e outras tragédias ambientais, com intensidade e frequência, como nunca tinham ocorrido. Esse desequilíbrio climático e geológico trará consequências trágicas para as populações, principalmente as mais pobres e vulneráveis.
Pela primeira vez, os cientistas asseguram que tal situação é provocada, em sua maior parte, pela ação humana e pelo modelo de desenvolvimento predatório que ainda prevalece em todos os continentes do mundo. Alguns cientistas ao estudar as eras geológicas, chamam a atual de antropoceno para designar a era na qual a sociedade humana se tornou responsável pela destruição da Terra e pela ameaça que isso significa para toda a vida no planeta.
Desde alguns anos, especialistas da ONU começaram a falar em um dia da sobrecarga da Terra. Esta data marca o momento no qual o nosso consumo anual de serviços e recursos naturais ultrapassa o que a Terra pode regenerar naquele mesmo ano. Essa data que em anos anteriores se colocava em setembro e depois em agosto, neste ano de 2021, conforme os estudiosos, já se deu no dia 29 de julho.
Infelizmente, a imprensa que publica datas que comemoram as mais diversas categorias profissionais e valoriza muitas atividades humanas, não divulga suficientemente o que esta data significa e assim não toma consciência da responsabilidade social nessa sobrecarga da Terra. A coisa certa para todos nós é que tudo isso terá imensa e imediata repercussão no Brasil (Cf. O Estado de São Paulo, 10 de agosto de 2021).
Os governos dos países ricos estão dispostos a tomar alguma medida que possa aliviar ou ao menos adiar um pouco a crise. No entanto, há um limite: essas medidas não podem e não devem afetar o sistema capitalista do qual eles dependem. Ora, cada vez mais, analistas e cientistas percebem que todo esforço para deter as mudanças climáticas que ameaçam o planeta será inútil, se a humanidade não for capaz de superar a economia capitalista que é essencialmente depredadora em função da acumulação de riquezas para uma ínfima minoria de bilionários que dominam o mundo.
Na encíclica Laudato Si, o papa Francisco confirma: a ecologia ambiental depende da ecologia social. Leonardo Boff já tinha insistido que é necessário ouvir o grito da Terra articulado com o grito dos pobres.
Marcelo Barros
Monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adora os movimentos populares e especialmente o MST.