Recentemente o céu de Oregon ficou totalmente tomado por uma cor meio alaranjada. Lembrava as imagens que tratam do fim do mundo ou alguma cena de filme em que zumbis saem andando, em meio a uma cidade totalmente escurecida, procurando alguém para devorar. Embora essa visão tenha motivado inúmeros memes na internet, o assunto é muito sério. Tem a ver com duas grandes ameaças à humanidade: o aquecimento global e a destruição das florestas, que são importantíssimas para a vida no planeta.
O fenômeno ocorrido em Oregon é fruto de altas temperaturas prolongadas e ventos fortes na região. Considerado como sem precedentes, tem colocado em risco a vida de várias famílias. Em 10 de setembro, já havia queimado uma área de quase 130 mil hectares.
No Brasil vemos algo também alarmante. Inúmeras queimadas atingem a Floresta Amazônica e o Pantanal. Aliado ao negacionismo de quem deveriam proteger essas áreas e seus povos originários, cresce o volume de área destruída. No caso do Pantanal, em 8 de setembro, a destruição causada pelos atuais incêndios equivalem ao dano dos últimos 6 anos.
Essas são apenas algumas catástrofes que o ser humano tem causado, fruto de sua negligência em cuidar do planeta e da falta de vontade política e econômica em alterar os mecanismos de produção, grandemente responsáveis pelo aquecimento global e pela poluição da atmosfera. A destruição paulatina do planeta é fruto de um exacerbamento da mentalidade moderna decorrente da lógica capitalista. Nela, a natureza é vista como fonte infindável de recursos, o que permitiria a extração de tudo e na quantidade que o ser humano quisesse. Essa forma de pensar permanece até hoje.
Nesse cenário, o que a teologia cristã tem a dizer? Qual deve ser sua postura? Primeiro ela deve encarar seriamente o problema, sem negacionismos ou fatalismos. Um discurso que compreenda a destruição como vontade oculta de Deus, castigo divino para determinada sociedade etc. deve ser rechaçado. Não há lugar da teologia cristã, que se baseia no amor de Deus e no testemunho de Jesus Cristo, para esse tipo de pregação, altamente preconceituosa e discriminatória.
Em segundo lugar, cabe à teologia cristã insistir na sacralidade da natureza como obra de Deus. Cabe mudar a visão do humano como “coroa da criação” e “dominador” sobre toda a natureza, que pode fazer com esta o que quiser. Se morrermos, a natureza permanece; se ela morre, não conseguimos viver. Desse modo, muito pelo contrário, a teologia deve ressaltar o caráter totalmente dependente do humano e colocá-lo em seu devido lugar em relação à natureza. Ele foi colocado em Éden como jardineiro, não como proprietário, como nos mostra o mito da criação de Gênesis.
A natureza, como criação divina, tem algo do próprio Deus. Ela tem dignidade e sacralidade, devendo ser respeitada e cuidada. Uma teologia séria e comprometida com os valores do Reino de Deus deve, desse modo, lutar pela causa da natureza, condenando toda ação promotora de sua destruição como pecaminosa. Destruição que, em grande parte, ocorre para satisfazer a ganância de um sistema (capitalista) que, como Mamon, devora seus filhos e filhas.
Fabrício Veliq – Dom Total