Rosh Hashaná marca a experiência da passagem do tempo, e Yom Kipur é o dia em que procuramos entender como julgamos.

Em Rosh Hashaná refletimos sobre o que fizemos com nossas vidas, lembrando que estamos todos imersos na mesma travessia humana.

Porque ninguém escolheu nascer.

Nem a época, lugar ou família.

Porque viver é fazer, e quem faz erra.
Porque viver é acreditar, e quem acredita se ilude.
Porque viver é amar, e quem ama sofre.

Porque não controlamos o futuro.
Um dia temos saúde e outro dia estamos doentes.
Um dia triunfamos e outro dia fracassamos.

Em Yom Kipur lembramos e que a capacidade de julgamento é o que nos faz humanos, mas também que seu uso indiscriminado e imprudente produz sofrimento, nos outros e em nós.

Reparação e reconciliação somente são possíveis se deixamos de julgar, por isso em Yom Kipur suspendemos nosso julgamento, e refletimos sobre o sofrimento que causamos quando:

• Julgamos em forma apresada, e somos injustos.
• Julgamos sob o efeito da cólera ou do medo, e agimos errado.
• Julgamos em forma preconceituosa, e humilhamos.
• Julgamos em forma dogmática, e desrespeitamos quem pensa diferente.
• Julgamos em função da opinião dos outros, e não do que sentimos, e nos tracionamos.
• Julgamos a forma e não o conteúdo, e somos banais.
• Julgamos quando o que deveríamos ter feito era só compreender.
• Julgamos para impor nosso poder, quando o que deveríamos fazer era compreender.

Porque a passagem do tempo nos permite crescer, e em Yom Kipur lembramos que devemos julgar menos e compreender mais, agindo de acordo com o rabino Hillel, que sintetizou a tradição judaica no princípio de “não faças aos outros o que não desejas que façam a ti”, devemos procurar:

• Sermos mais compreensivos e menos preconceituosos
• Sermos mais curiosos e menos dogmáticos.
• Sermos mais generosos e menos egoístas.
• Valorizar o essencial e não o supérfluo.
• Ouvir e refletir antes de opinar.
• Superar nossos preconceitos que são uma couraça empobrecedora.
• Deixar de nos valorizar pela desvalorização do outro
• Não permitir que os medos e inseguranças nos dominem.
• Proteger nossos interesses sem pisar nos outros.
• Diferenciar entre o essencial e o secundário.
• Manter o senso de humor e de ironia, sem os quais nossa vida e as da que nos rodeiam se torna opressora.

Porque em Rosh Hashaná e em Yom Kipur lembramos que a vida é um esforço constante de superar nossa omnipotência narcisista, desenvolvendo nossa capacidade de conviver, aprender, compreender e discernir, agradecemos:

Shehechyanu, ve´quimanau ve’higuianu lazman haze.
Que vivemos, que existimos, que chegamos a este momento.

 

Bernardo Sorj
Sociólogo brasileiro, professor titular aposentado de Sociologia na UFRJ, diretor do Centro Edelstein e Plataforma Democrática.