“Menina, levanta-te” é uma expressão forte, vinda do coração que é fonte do amor maior, capaz de resgatar os que se perderam, curar feridas da alma e colocar de pé quem é derrubado pelas circunstâncias da vida. “Menina, levanta-te” é a palavra restauradora pronunciada na casa de Jairo, o pai aflito e zeloso por sua filha. Um zelo exemplar que o impulsiona a buscar o alicerce que recompõe a vida ferida, na história de cada pessoa, pelos descompassos da humanidade.
O pai amoroso foi ao encontro de Jesus, à beira-mar, rodeado por uma grande multidão. Vendo o Mestre, caiu-lhe aos pés. Apresentou-lhe, confiante, sua súplica: “Minha filhinha está nas últimas. Vem, impõe as mãos sobre ela para que fique curada e viva!”.
A vida de cada filho e filha é a razão maior do amor de Deus. Por isso, Deus oferece o seu filho único amado para a salvação da humanidade. A oferta de Jesus é sacrifício redentor e restaurador do ser humano, constituindo fonte que lava as chagas de cada pessoa, curando-as. Purifica a humanidade do pecado, devolvendo-lhe a inteireza perdida. É prova incontestável que existe um caminho libertador.
Jesus foi acompanhando Jairo – nome que significa “ele brilha”. Nos olhos desse pai, que zela por sua filha, brilha a luz do cuidado. Essa luminosidade o engaja no esforço para conquistar o bem perdido, proteger a vida ameaçada em sua inteireza. Jairo, um coração que, exemplarmente, resplandece o sentido de que o outro é o mais importante e a certeza de que há uma fonte capaz de curar o ser humano.
Jesus o acompanhou, ladeado por uma multidão carente do banho dessa luz resplandecente de Jairo. Carente também de confiança na fonte que lava e cura feridas, ergue os decaídos e devolve a integridade necessária para a vida desabrochar-se. A caminho da casa de Jairo – o chefe da Sinagoga – emissários chegam com a impactante notícia: “Tua filha morreu. Por que ainda incomodas o Mestre?” Deus ouve tudo: tem os ouvidos do amor, sensíveis aos clamores dos pobres e sofredores. Ele se comove e se move até cada pessoa. Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da Sinagoga: “Não tenhas medo, somente crê”.
Entre lamúrias e choro, Jesus entra na casa. Pergunta sobre as razões de tanta agitação e assegura que a menina não havia morrido, apenas dormia. Muitos zombaram Dele.
Acontece de se zombar da vida quando se desconsidera a sua sacralidade, perdendo o horizonte que permite reconhecer a grandeza do sentido de viver. Jesus toma consigo, além de alguns discípulos, o pai e a mãe da menina. Entra no lugar onde a criança se encontrava e segura a sua mão. O Mestre diz: “Menina, levanta-te”. A menina o obedece. Levanta-se e começa a andar. O acontecido provoca êxtase e admiração. Brilha de novo a vida e dissipa-se a escuridão. Regenera-se o broto da esperança. O que parecia perdido é retomado e a vida pôde novamente florescer.
Ecoe, menina, no seu coração a força amorosa desta palavra: “Levanta-te!”. Caída sob o peso das adversidades, vai levantar-te exemplarmente para todos os seres humanos. Levantar-te para percorrer seu caminho, desabrochando seus sonhos e edificando a beleza de uma vida que se refaz. Seu viver perpetue um grito-convocação direcionado à sociedade, interpelando-a a cumprir sua missão: resgatar as vítimas, curar os feridos e garantir as necessárias condições para que seja edificada a vida em sua plenitude.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).