A Space-X (uma empresa privada) vai lançar/lançou um foguete tripulado com astronautas da NASA (uma agência espacial estatal).

Isso ocorrerá/ocorreu no meio de uma pandemia catastrófica e anos após o governo norte-americano destinar incentivos à corrida espacial por meio de companhias privadas.

Ninguém e nenhum setor funciona isolado. Tudo está ligado. Tanto entropia como cultura bailam neste momento.

Contudo isso é radicalmente distinto de acreditar e empreender que instituições sirvam à crenças individuais, ou que dinheiro público, de todos, possa ser colocado em bolsos particulares. Isso chama-se patrimonialismo e corrupção, e no Brasil já foi praticado à esquerda e à direita. Quando todos erramos, por que não perdoamos e avançamos? Por que a Anistia foi perdida como princípio da experiência democrática brasileira? Por que o ódio?

Perguntas sem resposta.

Olhemos para a abóbada celeste que nos gruda no chão como espécie.

Não há como não depositar alguma esperança nas aventuras siderais da humanidade.

Assim como é impossível esquecer a desesperança com a manutenção do balanço ecológico do planeta. Especialmente quando a quarentena mostra como nós humanos somos barulhentos, poluidores, predadores e corrosivos.

O desenvolvimento das tecnologias espaciais, que hoje habitam este celular onde escrevo, começou com um belo discurso do presidente estado-unidense John F. Kennedy, em 1962, dizendo:

“Nós escolhemos ir à Lua…! Escolhemos ir à Lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque será fácil, mas porque será difícil; porque esse objetivo servirá para organizar e medir o melhor de nossas energias e habilidades , porque é esse o desafio que estamos dispostos a aceitar, aquele que não estão dispostos a adiar , e uma pretendemos ganhar…”.

Às vezes me pego sonhando e imaginando assumirmos um compromisso com as tarefas difíceis no Brasil.

Se outros foram à Lua, poderíamos ir ao fundo do oceano Atlântico, usando nossa expertise em perfuração na construção de turbinas limpas para correntes marítimas; poderíamos entender com precisão milimétrica todos os rios do país, e seus biomas, criando uma imunidade holística, com saneamento ambiental; poderíamos tentar falar com as árvores, descobrindo os segredos da fotossíntese, para criar energia limpa em grande escala e para todos; poderíamos abraçar e proteger os povos originários cuja sabedoria milenar inspiraria à um novo espírito civilizatório; poderíamos reciclar e organizar nossas belas cidades como centros pulsantes de trabalho, prosperidade e inovação; poderíamos compreender a cultura como uma matéria prima inesgotável, desenvolvendo moda, design, arte, arquitetura e até códigos de computador; poderíamos visualizar a segregação racial e de classe como barreira para a constituição de uma unidade de povo sempre dita, mas nunca alcançada; poderíamos converter nosso interesse em se comunicar pelas redes sociais em novas formas de democracia representativa criando um Estado mais digital e vibrante; poderíamos usar nossa curiosidade pelo novo e o descompromisso com cerimônias para converter economia informal em formal, para trabalhar sem papel e burocracias; poderíamos aprender com nossa longa trajetória de desigualdades e violência, e fomentar justiça para todos, um lastro fundamental para nossa corrida como nação, que não seja espacial, mas intrinsicamente terrestre.

Nada disso seria fácil; fazer tudo isso seria tanto suado como bonito, estafante porém prazeroso, assim como é fazer música e dançar.

Washington Fajardo