A Festa de Santa Luzia, vivida dia 13 dezembro, em muitos lugares e de modo particular no Santuário Arquidiocesano Santa Luzia, em Santa Luzia, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, é ainda mais especial neste ano, quando se celebra o Jubileu de Ouro sacerdotal do Papa Francisco. Meio século de ministério, em que se revela o verdadeiro “ouro” de Francisco. Muito além de simples contagem do tempo, esses 50 anos iluminam obscuridades humanas e institucionais, inspiram transformações nas diferentes dinâmicas do mundo que afrontam os valores do Evangelho. De modo singular, a trajetória de Francisco encoraja atitudes que vencem comodismos e mediocridades que se perpetuam sob o argumento de que “sempre foi assim”. A vida sacerdotal do Papa mostra que o Evangelho, quando assumido no cotidiano, possibilita as mudanças tão necessárias à atualidade, a exemplo da urgente conversão ecológica.
Meio século de ministério sacerdotal – ouro moldado na vida religiosa jesuíta, com muitos serviços prestados, amor genuíno à Igreja e, de modo exemplar, aos mais pobres. Com o seu jeito de ser, o Papa Francisco amorosamente ensina que a força maior não está na aparência, mas na interioridade de cada pessoa. Seu ministério é dom, oferta de sua vida, a partir do encontro transformador com Jesus Cristo, insubstituível experiência que precisa ser vivida por todos. No caminho indicado por Cristo, Francisco se faz servidor da humanidade, a partir do sacerdócio, da missão de bispo, na tradição dos apóstolos, especialmente na responsabilidade de conduzir a Igreja, ser sucessor do apóstolo Pedro. No seu modo de agir, o Papa contribui para que todos compreendam: o mal da autorreferencialidade é curado a partir de dinâmicas que levem à liberdade interior.
Essa liberdade fundamenta-se na essencialidade mística da fé cristã católica, que interpela a humanidade a enxergar que o essencial não está nas posses – de bens, condecorações, carreira, poderes e prestígios. Vivida genuinamente, a fé é caminho para a autêntica liberdade. Sua busca pode incomodar, pois exige profundidade, autenticidade e o fiel testemunho dos valores cristãos. Vivenciada em sua plenitude, a fé cristã é capaz de fazer surgir novo humanismo. Urgente é reconhecer e assumir o valor do testemunho coerente com aquilo que se professa, considerando que a dimensão conceitual, embora importante, é insuficiente para alcançar as indicações de Jesus.
A liberdade, a partir de compreensão lúcida, fundamentada nos princípios do Evangelho, destitui a idolatria das exterioridades – camuflagem das estreitezas, do que interiormente é apequenado. Passa-se a questionar as falsas seguranças, alicerçadas também na servidão ao dinheiro, nas lógicas do poder, sem a lucidez de um caminho honesto. O caminho dessa liberdade interior é ouro generoso da genuína vivência do cristianismo, que requer o cultivo de proximidades, dos diálogos e a eleição dos pobres como opção preferencial.
Celebrar meio século de vida sacerdotal do Papa Francisco, Jubileu de Ouro, é oportunidade para cada pessoa seguir seu exemplo, assumir a simplicidade, o desapego, rejeitar hegemonias impostas pela sedução do dinheiro, fonte de injustiça social. As orações e congratulações ao Papa Francisco, com gratidão por seu ministério, contribuem para cultivar alegrias no coração e iluminar a mente, no sentido de tornar cotidianos os genuínos gestos proféticos e corajosos, inspirados na autêntica fé cristã católica. O mundo, com a riqueza do “ouro” de Francisco, pode, sim, se transformar.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).