Na África, a Covid-19 “está causando uma ‘pandemia da fome’ e provocando um ‘tsunami da pobreza’, que ameaçam a vida de inúmeras pessoas vulneráveis e pobres. Os especialistas consideram que o número de vítimas devido aos efeitos colaterais do coronavírus – pobreza, fome, doenças e violências exacerbadas pela pandemia – poderia superar o número de pessoas que morrem diretamente por causa do vírus”: é o que afirma o Pe. Charlie Chilufya, diretor do Escritório para a Justiça e a Ecologia da Conferência dos Jesuítas da África e de Madagascar, em um artigo publicado no site do Centro Social Europeu Jesuíta, que se debruça sobre “alguns danos colaterais que poderiam ser difíceis de reparar se não se prestar atenção”.

Em muitas cidades africanas, a pandemia “amplificou os problemas sociais preexistentes para as populações mais desfavorecidas e ainda mais para as categorias mais vulneráveis, como as mulheres, as meninas e os sem-teto, que sofrem os efeitos mais graves da crise atual”.

O padre jesuíta cita um recente estudo da Plan International (uma ONG humanitária que opera em 50 países em desenvolvimento e está comprometida em primeira linha em proteger os direitos da infância, especialmente das meninas), segundo a qual “as medidas adotadas para conter a doença agravaram as desigualdades existentes, forçando as meninas a abandonar a escola e colocando-as em uma situação em que correm o risco de serem vítimas de violências nas próprias casas”.

A crise, de acordo com o Pe. Chilufya, também evidencia a necessidade de fortalecer os sistemas de proteção social na África, “que atualmente são inexistentes ou muito insuficientes”. Em todo o mundo, incluindo alguns países africanos, vários governos intensificaram a proteção social para enfrentar o choque socioeconômico provocado pela Covid-19.

No entanto, na África “as medidas são muito inadequadas ou insuficientes para proteger as pessoas mais pobres”, observa o jesuíta: “Muitas vezes, falta a possibilidade de alocar recursos monetários e fiscais importantes como nos países mais ricos”, continua o padre do Zâmbia.

Além disso, “as fraquezas estruturais nos mercados de trabalho no continente limitam a eficácia das respostas políticas, que se concentram principalmente em trabalhadores com contrato de trabalho e em empresas que representam menos de 20% do emprego na maior parte do continente”.

Em nível nacional, afirma o responsável jesuíta, é desejável que os países africanos disponham de um modelo de financiamento para a proteção social baseado em um sólido sistema fiscal geral e não apenas nas retenções salariais que dizem respeito a poucas empresas.

Para o Pe. Chilufya, “é, portanto, compreensível que, na ausência de entradas suficientes, os países africanos em desenvolvimento se voltem para as nações ricas para cobrir os custos para atenuar os efeitos do coronavírus”.

Em curto prazo, acredita ele, “há uma urgente necessidade de ajuda internacional dos países ricos do Norte. Algumas despesas emergenciais de estímulo econômico são necessárias para evitar danos permanentes aos mais pobres do mundo nesta crise da Covid-19”.

Segundo o religioso, “o mundo poderia facilmente fornecer dois dólares por pessoa por semana em apoio à renda de dois bilhões de indigentes pelas próximas 50 semanas”. Sem essa medida – este é o alerta do diretor do Escritório para a Justiça e a Ecologia da Conferência dos Jesuítas da África e de Madagascar – “milhões de pessoas morrerão de fome e outros milhões sofrerão os danos da desnutrição”.

L’Osservatore Romano, Dom Total