O jogo é bruto.
De um lado você, eu e os milhões de usuários das Redes Sociais.
De outro as BigTechs, versão tecnológica de uma divindade onisciente (detém e manipula todo o conhecimento), onipresente (está em toda parte, chegando até às camadas economicamente mais frágeis da sociedade) e que se quer onipotente, ou seja, quer liberdade para fazer o que quer, inclusive suas próprias regras, o que, na prática, significa regra alguma.
O jogo é bruto.
Muitos dos nossos valorosos parlamentares sabem disso, porque sabem o valor (preço) de seus votos.
O jogo é bruto.
As Redes Sociais aperfeiçoaram e aceleraram um movimento que a grande mídia tradicional vem fazendo há tempos: transformar a notícia em espetáculo, embalando-a como se fosse puro entretenimento. Vejam os nossos telejornais. Imagens rápidas sobre as quais se produzem textos sintéticos, vagos, inconclusivos, com foco nos efeitos sem reflexão sobre as causas. No mesmo bloco de notícias, você engole sem mastigar a morte de crianças na guerra na Ucrânia, o gol da rodada, o aumento do preço da gasolina, o assalto com reféns numa agência bancária e uma matéria fofa sobre o Criança Esperança.
Tudo é batido no liquidificador da redação, pasteurizado, homogeneizado e injetado direto no nosso cérebro, junto e misturado.
Assim como o monopólio jornalístico, no Brasil, se concentra nas mãos de poucas “famílias” (Marinho, Abravanel, Macedo, Mesquita, Frias e Saad), as Big Techs elevaram esse monopólio a uma escala mundial.
Só Mister Mark Zuckerberg, fortuna pessoal na casa dos 100 bilhões de dólares, é dono da Meta (Facebook Messenger, Facebook Watch e Facebook Portal, Instagram e WhatsApp).
Mas o que isso tem a ver comigo, conosco?
Você acorda, seu primeiro olhar é para conferir se o smartphone está carregado. Entra no WhatsApp pra ver as mensagens, dá uma passada no Facebook e abre o Google para ver as notícias do dia.
Durante o café assiste, na tela do celular, o jornal da manhã.
No trabalho, mais telas, mensagens, intermináveis passeios por sites nunca antes navegados. Para visitar um cliente ou um amigo, segue rumo ao desconhecido guiado pelo Google Maps ou o Wase. E chega.
Estamos radicalmente e inapelavelmente conectados, intimamente linkados e totalmente plugados em redes que se dizem sociais, mas na verdade vão muito além disso. Não só nos deixam informados, mas também comentados, curtidos e compartilhados.
Pensamentos vão e vem, mensagens e opiniões surgem aos milhares e desaparecem na mesma velocidade.
Andy Worrol profetizou nos anos 1960 que “no futuro todos serão famosos; por quinze minutos”. Errou na estimativa do tempo. Gurus líderes, celebridades, assim como palavras, nascem e somem como se nunca tivessem existido. A fama é tão instantânea quanto o esquecimento.
O volume de informação é tão gigantesco que não deixa tempo para a digestão. A manchete escandalosa de hoje, amanhã está na lixeira ou caixa de spam.
As gigantes movem seus imensos tentáculos algorítmicos. Ontem recebi pelo Facebook um artigo aparentemente inocente, de uma pessoa que nem faz parte da minha rede, elogiando… as Redes Sociais.
O jogo é bruto.
Acompanhemos…
Eduardo Machado